Eu gostaria de dizer que chegamos a tempo de impedir que qualquer coisa acontecesse a ela, mas estaria mentindo. Tudo tinha acontecido tão rápido e se tivesse prestado mais atenção aos sinais, poderia tê-la ajudado, mas estive tão distraído nos últimos dias e ainda mais conturbado no minuto em que conseguimos sair do mundo dos sonhos.

A minha cabeça estava em uma discussão acirrada com o coração, enquanto um queria ajudar Toothiana e focar nos guardiões, o outro só conseguia pensar em Cupid e se era realmente verdade que tínhamos nos beijado aquele dia na Transilvânia no meu único ato são, e ele tinha certeza de que aquilo de fato tinha acontecido. E por isso eu queria mais, estive negando esse desejo por tanto tempo, só me faltava saber se era reciproco, se Cupid sentia o mesmo por mim.

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E era justamente por esse motivo que precisava falar com ele, mas alguém não parecia tão interessado em conversar comigo. Todas as minhas tentativas de aproximação terminaram em fracasso total.

— Jack, tudo bem? – Bunnymund questionava, mas estava tão fora de mim que foi necessário algumas cutucadas para tirar meus olhos de Cupid.

— Sim… Do que estávamos discutindo mesmo?

— Sobre a sombra de Pitch ter se dado ao trabalho de vir até aqui para nos atormentar em pesadelos ao invés de levar o nosso convidado embora. Quero dizer, para que se dar ao trabalho de aparecer aqui então?

— Vocês sentem isso também? – Todos olharam confusos para North. – Estamos perto de alguma coisa, consigo sentir isso.

— De novo com essa história da pança? – North pareceu ofendido com o comentário.

— Até agora ela não tem errado em nenhum momento, meu caro Bunnymund. Não se esqueça disso.

— Não esqueceria nem se pudesse. Você não deixaria de jeito nenhum. – Apenas os dois sorriram, o resto de nós estava muito ocupado em pensamentos próprios, até que se tornou desagradável para os dois continuar com aquilo. – Bom, e agora, o que devemos fazer?

— Seja qual for o plano da sombra de Pitch, ou de seu mestre, ou seja lá quem for, devemos seguir com o nosso. – Ele se voltou para Toothiana. – Vamos te ajudar da mesma forma como ajudamos da última vez, seremos os seus guarda costas, assim como das fadinhas também. Estaremos mais atentos dessa vez, certo Frost? – Tive que novamente tirar o olhar de Cupid, North já começava a me encarar estranhamente.

— Com certeza. – Tooth, que parecia cabisbaixa até ali, forçou um pequeno sorriso.

— Obrigada, a todos vocês. – Mas não era um gesto tão sincero, e era até compreensível. Não conseguia imaginar como Tooth estaria se sentindo, desde a nossa última batalha com Pitch, ela tem sido feita de alvo principal, como se tudo que fosse ruim tivesse que atingi-la antes de nos atingir primeiro, só conseguia sentir sua frustração. – Se vocês não se importam tenho que fazer uma reunião com as fadinhas, elas precisam ficar mais atentas agora e tomar mais cuidado. Elas têm que saber o que está acontecendo. – Ninguém ousou discordar, era nítido que ninguém conseguiria contradizê-la, então Tooth apenas se encaminhou para sair da casa de North, antes olhando para trás, ainda esforçando um sorriso e sumiu.

— Eu vou até o meu palácio, tem alguns dragões que podem nos ajudar a proteger as fadinhas, talvez até o próprio Toothless. – Cupid disse em disparada, saindo logo atrás de Tooth, não tive tempo de reagir, porém North, Bunny e Sandy me encaravam com certa suspeita.

— O que?

— E você vai ficar ai parado? – Bunny disparou.

— Como assim?

— Qual é Jack, não precisa se fazer de desentendido agora. Você ficou encarando Cupid o tempo inteiro, tá na escrito na sua cara que você precisa... Não. Desculpa. Tem que falar alguma coisa com ele. Só nos faça um favor, não desapareçam e tentem não ir tão longe.

— E pela Lua, tentem não brigar, por favor. – North finalizou, entretanto continuei ali, parado, congelado, absorvendo a gama de informação que tinha sido atirada em minha direção. – Jack, por favor, vai logo.

— Eu posso mesmo? – Sim. Eu perguntei isso. Vi Sandy bater a mão no próprio rosto.

— Já era pra você ter alcançado ele, mas não saiu do lugar até agora.

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Não esperei outra confirmação, e antes que eles mudassem de opinião sai correndo; eles estavam certos, eu tinha que falar com Cupid. Só não poderia prometer que não brigaríamos, afinal, mais uma vez estaria ali insistindo no mesmo assunto com ele, me perguntando até quando até ele finalmente me jogar de comida para os dragões, e talvez eu estivesse bem perto disso, quem sabe.

— Cupid! – Gritei seu nome antes que ele pudesse desaparecer completamente do meu campo de visão. Tooth deve ter pegado algum outro caminho para seu castelo, enquanto Cupid provavelmente fazia seu caminho para a sala dos feriados, o jeito mais rápido de voltar ao palácio. Assim que ele me ouviu, ficou parado, congelado, tenso. – Precisamos conversar. – Tentei soar sério.

— Sempre precisamos. – Ele se virou para me encarar e pude perceber o rubor em sua face, ele sabia o que estava por vir. – Sobre o que vai ser dessa vez? – Engoli seco.

— Nightlight apareceu em meu sonho. – Consegui captar sua atenção.

— Como?

— Nightlight, ele apareceu e conversou comigo em meu sonho. – Por um segundo ele pareceu parar de respirar.

— Como sabe que era ele?

— Ele se apresentou para mim, de inicio eu não acreditei. Ele pediu para que seguíssemos com o nosso plano e que prestasse atenção aos pesadelos, durante o tempo todo imaginei que pudesse ser alguma jogada da sombra de Pitch, mas... – Parei de falar, não queria entrar em muitos detalhes, não queria relembrá-lo do horror que acabou de passar: o próprio pesadelo.

— Mas o que? Pode dizer.

— Quando entramos no seu sonho, a pessoa com quem você conversava, era ele não era? – Cupid assentiu. – Reconheci como a pessoa que conversou comigo.

— Quer dizer que você viu o rosto dele?

— Não, por algum motivo tudo dele estava borrado, só sua silhueta era mais visível, mas ao mesmo tempo ele me pareceu tão familiar, quase como se já tivéssemos nos encontrado alguma vez, sabe? – Ainda que meio confuso Cupid assentiu.

— E o que mais ele falou? – Parecia desconfiado.

— Muitas coisas, uma delas era que a segundo profecia era sobre nós quatro. – Saiu mais como uma pergunta do que como uma afirmação, estava tentando lembrar o que ele tinha falado comigo. – E que não devia esconder nada de você. – Senti um calafrio. Se não era pra esconder nada dele, eu deveria então falar sobre os meus sentimentos? E enquanto debatia isso em minha mente, Cupid estava com aquela expressão novamente, prestes a chorar. – Alguma coisa te parece familiar?

— Não... – Negou passando as mãos nos olhos tentando impedir que alguma lágrima caísse, talvez fosse mais alguma coisa que ele não conseguia se lembrar, não importasse o quanto ele tentasse. Meu coração apertou, vê-lo assim me machucava todas as vezes. – Ele disse mais alguma coisa?

Mas não o respondi, ao invés disso corri para abraçá-lo. Nosso tempo estava encurtando cada vez mais, Cupid estava esquecendo o grande amor de sua vida, pouco a pouco, e ele era nossa melhor chance de encontrar o guardião primordial um dia.

— Desculpa. – Sussurrei a altura da sua orelha, demorou um pouco, mas logo ele retribuiu o abraço, senti os soluços de seu corpo.

— Por que você está se desculpando? – Murmurou de volta com a voz meio chorosa, cheguei a uma simples conclusão. Cupid definitivamente era um dos guardiões mais fortes, quando levamos em conta o tanto tempo que ele está entre nós, a sua história, todas as coisas que já viu e sentiu, não pareceu ter derramado uma lágrima ao longo desses anos. Aguentando muitas coisas sozinho e agora por alguma razão sempre que estou perto ele se desmancha.

— Porque eu gosto de você. – Não era o melhor momento para dizer aquilo, só que saiu tão naturalmente e era uma a única coisa com a qual eu não conseguia mais lidar escondido, por mais que ele pudesse me rejeitar. – E dói tanto trazer todo esse sofrimento para você, não quero te machucar mais. – Ele apertou o abraço um pouco mais.

— Eu estava errado sobre você garoto da neve... Você não tem um coração de gelo... – Ele se afastou para que pudéssemos nos encarar. – Há uma chama que você protege por trás de uma linda e delicada escultura de gelo. – Ele encostou uma mão em meu peito e acompanhei o movimento. – E eu a vejo queimar mais toda vez que você me abraça. – Voltei a encarar seus olhos verdes, tinha alguma coisa que não tinha visto ali antes.

Dessa vez não fui eu quem deu o primeiro passo, Cupid quem surpreendeu ao encostar os lábios nos meus de maneira tão gentil, e antes que ele pudesse se afastar novamente o envolvi em meus braços e continuei a beijá-lo, sentindo o calor de seu corpo no meu, emprestando parte da sua temperatura, descongelando a suposta escultura de gelo que ele tinha acabado de mencionar.

Foi durante esse beijo que cheguei a uma conclusão. Talvez a mais perversa que já tive esse tempo todo.

— Mas... – Quando paramos o beijo, Cupid sussurrou para mim. – Meu coração ainda pertence a Nightlight... Desculpa, não posso entrega-lo inteiro para você... – E pela primeira vez, estava tudo bem ouvir aquilo. – Mas eu prometo que vou tentar não ficar tão triste quando o assunto for ele daqui para frente.

Agora tinha certeza que o nosso beijo tinha acontecido, mas não na Transilvânia e sim ali mesmo, em meio a um dos corredores da casa de North. Aquela era uma lembrança real e que com certeza ficaria guardado para sempre comigo. O dia em que o guardião do amor beijou o guardião da diversão.

Eu iria ajudar Cupid a encontrar o seu grande amor de novo, mas faria o guardião do amor se apaixonar por mim mil vezes mais, e assim Nightlight aprenderia a nunca mais desaparecer de novo sem deixar um recado, principalmente se for por mais de mil anos. Portanto ele que se cuide, pois Jack Frost estava na área e trazia consigo uma tempestade.

❄❅❆❆❅❄

— Você não terminou de me dizer o que Nightlight falou no sonho. – Depois do nosso pequeno momento voltamos a caminhar em direção as portas, Cupid parecia conhecer a casa de North melhor do que eu.

— E onde foi que eu parei? – Mas a minha cabeça estava nas nuvens, honestamente beijá-lo foi muito melhor do que imaginei que seria.

— Que não deveria esconder nada de mim... Mais alguma coisa além disso?

— Na verdade sim. – Cupid era todo ouvido, só que tinha que tomar cuidado, as coisas estavam acontecendo muito rápido para ele. – Ele quem deu a ideia de prestar atenção nos pesadelos, por algum motivo o que acontece neles era importante.

— Chegou a comentar sobre isso com os outros?

— Ainda não... Precisava ter uma conversa a sós com você primeiro, – Ele virou o rosto. – depois iria acabar contando tudo para todo mundo.

— E o que aconteceu nos sonhos dos outros? Fui o último que vocês visitaram, não participei de nada, só fiquei revivendo meu pesadelos dezenas e dezenas de vezes.

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— Bom... Sandy creio eu que foi o único a não ter tido os pesadelos, ele quem me tirou do meu depois da conversa com Nightlight, em seguida entramos no sonho de North.

Expliquei todo o nosso trajeto, sobre a captura de algum tipo de criatura, o desparecimento de crianças e aquela figura medonha que apareceu no pesadelo de North; sobre o corredor de espelhos mostrando várias imagens, possivelmente de Toothiana e como seu reflexo perverso a insultava várias vezes – até mesmo que ela era parecida com o que eu tinha visto em Paris. O pior, fora o do próprio Cupid, talvez, fora o de Bunnymund, aquela floresta cercada de espinhos e uma música horripilante que parecia estar drenando toda a vida da floresta. E por último o sonho do ratinho sendo perseguido por aquela versão grotesca de Toothiana e como ela mesma nos levou a Cupid.

— Se os boatos da cidade do Halloween forem certos, então esses sonhos podem ser previsões do futuro, de uma forma muito estranha. Nightlight queria que você prestasse atenção neles por algum motivo, então podemos descartar que eram apenas pesadelos para nos manter distantes da cidade. – E ele estava certo, talvez realmente fossem algum tipo de previsão do futuro, talvez a parte mais assustadora dele, e se fosse verdade, qual daquelas versões estaria mais próxima de acontecer? – Teve mais alguma coisa que ele disse? Mais alguma dica?

— Ele disse mais algumas coisas sim, espera... – Tentei puxar pela memória, mas a mesma estava falhando muito comigo recentemente. – Além da dica dos pesadelos... Ele disse que... Deveríamos priorizar a proteção das crianças, alguma coisa que o dono da sombra de Pitch está fazendo muito mais do que apenas assustar as crianças e que deveríamos pará-lo a todo custo. E antes que você pergunte, sim, ele falou de um jeito de pará-lo, mas você não vai gostar.

— Como?

— Seu arco, a magia que ele oferece, tenho que aprender a controlá-la ou então não conseguiremos seguir em frente.

— Você já tomou o arco para si uma vez e o que aconteceu foi catastrófico, quase fomos expulsos da Transilvânia.

— Vamos pedir ajuda aos guardiões, como eu tenho dito desde o inicio, talvez eles possam ajudar em alguma coisa do tipo. – Vi Cupid morder o lábio, ele estava nervoso? – A não ser que você tenha encontrado algo... – Ele evitou meu olhar.

— Espera. – Ele parou de andar.

— Você descobriu alguma coisa na sua biblioteca nos dias em que ficou trancado? – Nervosismo passou pelo meu corpo, será que ele tinha encontrado os fantasmas? Não queria continuar a esconder isso dele, mas tinha que ir devagar.

— Não, não é isso. Estou pensando aqui... Quando acordamos descobrimos que a sombra de Pitch não tinha vindo pegar o ratinho, mas ele citou uma frase estranha: “meu trabalho aqui está feito, a semente já foi plantada, agora é apenas esperar para que ela desperte”.

— Aonde você quer chegar com isso?

— Você quem me dirá, qual era a ideia de Pitch nessa última batalha que você participou?

— Fazer o medo reinar. – Recordei dos passos de Pitch alguns anos atrás. – Ele queria apagar a luz do mundo, fazer com que as crianças não acreditassem mais nos guardiões. Por quê?

— O dono da sombra de Pitch... Ele não está fazendo com que as crianças desacreditem em nós, pelo contrário, ele está fazendo com que elas tenham medo. – De repente a linha de raciocínio de Cupid fez sentido.

— Em Paris... A ideia era fazer com que aquela criança sentisse medo de Toothiana, os ratos também, já que a chamavam de "Falsa Fada do Dente".

— Quando as crianças não acreditam em nós, nos tornamos invisíveis, como se nem existíssemos, mas o que acontece quando elas têm medo de nós? – E de repente era aquilo, todo o esquema do dono da sombra de Pitch parecia se clarear. – Precisamos encontrar Toothiana urgentemente. – Mas já parecia tarde, Bunnymund já aparecia correndo pelo corredor.

— Pessoal, temos um problema, reunião de emergência. – Não houve nem tempo para pensar, nos juntamos a Bunny correndo de volta para os outros, se o que temos for certo, então Tooth está realmente em perigo. E enquanto corríamos continuei a pensar sobre uma peça desse quebra cabeça que não fazia tanto sentido, o que a sombra de Pitch quis dizer com semente plantada?

Quando chegamos à sala onde estavam North e Sandy, o horror parecia se alastrar na expressão de cada um, será que o que tinha pra acontecer já aconteceu? Perdemos Tooth?

— O que aconteceu? – Quebrei o silencio.

— Temos que ir para o castelo das Fadas. – Eles pareciam mais nervosos que o normal.

— O que vocês não estão nos contando? – E se entreolharam, todo esse segredo estava acabando comigo, Cupid parecia tão perdido quanto.

— No caminho. – Bunnymund já tinha batido as patas no chão e o buraco se formado, onde nós começamos a descer rumo à escuridão com um destino certo.

❄❅❆❆❅❄

A magia dentro dos tuneis de Bunnymund funcionavam de maneira diferente, por ser no subterrâneo nós sempre acabávamos ziguezagueando para os lados como em um escorregador, e não importasse o lugar, nós sempre seriamos jogado para fora do buraco, mesmo que fosse do outro lado do mundo, não tinham essas questões do mundo natural, diferente do transporte de North onde apenas seguíamos uma linha reta através de um portal. Aqueles tuneis podiam ser bem caóticos sem uma orientação de Bunnymund.

Quando finalmente pude levantar mal reconheci o lugar. A sensação era totalmente diferente do que quando se visita o castelo de Tooth, todos os outros estavam com a mesma expressão, aquele não parecia o lugar certo, estava quieto.

— O que aconteceu aqui? – Cupid foi o primeiro a se pronunciar.

O castelo das fadas costumava ser um lugar "colorido" seus tons variavam do azul, verde e rosa, combinando perfeitamente com as cores de Toothiana e das fadinhas, ele trazia um ar de inocência misturado com uma obra prima, sua arquitetura era diferente de qualquer outra coisa que os humanos construíram.

E agora ele estava escuro, literalmente, parecia ter acontecido uma reforma de ultima hora.

Suas cores haviam sido trocadas para o preto, laranja e dourado, para completar ainda tinham fios e fios espalhados – ao menos pareciam fios – pelo lugar inteiro.

— Alguém pode nos contar o que está acontecendo agora? – Cupid parecia mais nervoso do que preocupado com o que estava vendo, North, Bunnymund e Sandman se entreolharam, sim até Sandy estava nessa.

— Quando vocês compartilharam aquele pesadelo, Tooth nos contou que recebeu visitas particulares da sombra de Pitch. – North finalmente abriu a boca. – O dono da sombra a convidou para o seu lado... – Não consegui segurar o espanto, Cupid também não.

— Mas ela recusou, só que a sombra não parou... As coisas ficaram mais pesadas para Tooth, foram muitas ameaças. E nos pesadelos ela foi ameaçada de novo... – Bunny completou.

— Por algum motivo o dono da sombra quer que ela se junte ao time dele, a sombra inclusive disse que na próxima visita quem a veria seria seu dono em pessoa. Tooth não estava nada bem, parecia cansada e irritada ao mesmo tempo.

— Então combinamos que quando o dono da sombra aparecesse, ela nos mandaria algum sinal para que aparecêssemos...

— Mas? – Pareceu incompleto, algo aconteceu.

— Aparentemente o sinal veio, Tooth deve ter mandado uma das fadinhas vir no avisar, só que antes que ela pudesse dizer qualquer coisa... – North desviou o olhar, foi então que percebi que ele carregava alguma coisa em suas mãos.

— O que houve? – Perguntei já pensando no pior.

— Ela caiu dura no chão e alguma coisa a envolveu, – Cupid e eu trocamos olhares, talvez fosse realmente pior do que pensávamos. – a deixando dentro de uma espécie de casulo. – Ele nos mostrou o que segurava. Na palma da mão estava o tal casulo, ao pegar de sua mão não senti nada, quase como se não houvesse vida ali, apenas senti os pequenos fios que o envolvia, sem calor, sem frio, sem nada. Repassei para Cupid para que pudesse ver com seus próprios olhos.

As palavras que o guardião do amor havia feito há poucos minutos atrás rodeavam a minha cabeça agora mais do que tudo, seria isso o que acontecia conosco quando as crianças sentissem medo de nós?

— Vamos encontrar Tooth, agora.

Todos pareceram concordar com o plano. Sandman ficou encarregado de nos levar diretamente para o castelo das fadas com suas invenções de areia, ele criou uma espécie de balão de ar em nossa volta e simplesmente nos guiou diretamente para o nosso destino. Meu coração doía, se estivéssemos certos quanto aos planos do dono da sombra de Pitch, então tínhamos entregado Toothiana de mão beijada para ele.

Não conseguia tirar os olhos do nosso objetivo.

E estávamos ali naquele ponto onde eu desejava ter prestado mais atenção ao que vinha acontecendo, estava tudo na nossa cara e ninguém tinha percebido nada, e ali estava o resultado, provavelmente perdendo uma amiga.

Começava a me sentir inútil. Nem ao menos ouvi quando Cupid contou os detalhes sobre a nossa teoria, como os últimos pequenos acontecimentos estavam conectados de alguma maneira, tudo para chegar a este momento presente, apenas repassava tudo paralelamente comigo mesmo. Alguma coisa ainda parecia estranha.

O dono da sombra de Pitch deveria estar bem desesperado para isso acontecer, uma vez que o plano de sequestrar um rato e entrar em seus sonhos foi arquitetado de última hora, ele até mesmo nos separou no mundo dos sonhos, mas como sabiam de tudo isso?

— Jack, tudo bem? – Senti uma mão em meu ombro, retirando-me dos devaneios. – Parece distante...

— Está tudo bem, North, só quero ter certeza que está tudo bem com Tooth.

— Não se preocupe, seja o que for, vai ficar tudo bem no final, tenha fé. Já estamos chegando.

E ele estava certo, já estávamos na torre mais alta do castelo, lugar onde eram os aposentos de Tooth e onde ela provavelmente estaria. A sensação estranha de antes ainda nos perseguia, tudo parecia tão diferente, mas ao mesmo tempo tão familiar.

Assim que aterrissamos a criação de Sandman se desfez em areia.

Caminhamos devagar procurando por sinais de Tooth e das fadinhas, mas tudo o que achamos pelo caminho foram mais casulos, alguns estavam grudados as pilastras do castelo, outros estavam no chão e poucos pelo teto, ali bem próximo aos aposentos da guardiã haviam mais, e um em particular era enorme.

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Estava bem próximo ao que seria uma mesa com algumas caixas com dentes de crianças, os dentes que guardavam suas memórias.

— Será que esta é Toothiana? – Queria dizer a Bunnymund que não, não era ela, mas em comparação aos outros aquele era o maior casulo, o tamanho perfeito da guardiã.

— Chegamos tarde?

Parecia que sim, mas mal sabíamos que tudo iria piorar um pouco mais, só que uma coisa dentro de mim sabia no momento em que o enorme casulo se mexeu e as rachaduras começaram a se formar. Alguma coisa estava para sair dali.

Entramos em estado de alerta, com um pouco de esperança que fosse Tooth lutando para sair dali, mas minha intuição gritava dizendo que não era bem assim, as rachaduras tornaram a se alargar do meio para as pontas abrindo uma fenda no casulo e quando chegou as extremidades simplesmente parou. Entretanto ainda não tinha acabado, duas formas enormes se empurraram para fora. Eram asas. Enormes asas de borboleta, as mesmas asas que vimos nos sonhos naquela falsa Tooth.

Elas começaram a bater com mais força, como se estivessem puxando algo para fora do casulo e depois de muita insistência conseguiram, nossa imagem seguinte parecia estar sendo retirada de outro mundo. Era realmente ela bem ali, ainda de olhos fechados, restava saber se era nossa Toothiana ou a falsa.

— Tooth? – A chamei enquanto ainda flutuava na nossa frente de olhos fechados. North, Bunnymund, Sandman e Cupid pareciam assustados demais com o que viam, aproximei-me um pouco mais dela. – Tooth, é você mesma? – De repente um sorriso se formou em seu rosto calmo e seus olhos se abriram revelando os olhos que antes eram rosa, agora, alaranjados, bem ameaçadores. – Tooth...

— Olá, Jack. – Respondeu firme, até mesmo sua voz parecia diferente, dando um pequeno riso em seguida. Ela começou a se analisar, inspecionando, desde os pés até os braços.

— É você mesma Tooth?

— Claro que sou eu, Bunny. Quem mais seria?

— E você está bem?

— Estou ótima. – Voltou o olhar para nós. – Muito melhor do que sempre fui com certeza.

— Tooth, o que aconteceu com você? – Ela passou as mãos pelo rosto.

— O que quer dizer, Jack? – A olhei no fundo dos olhos para que entendesse perfeitamente. – Ah sim. Gostou da minha transformação? Presente de... – Ela esperou um pouco antes de completar. – Do dono da sombra de Pitch – Ela voou para o espelho mais próximo. – E tenho que dizer, ficou ótima.

— Espera, você se encontrou realmente com ele? – Tooth não respondeu, apenas voltou a fixar os olhos em mim. – Chegou a vê-lo?

— Hum... Sim. – Todos tivemos a mesma reação.

— E quem é?

— Não posso dizer. – Respondeu passando os dedos suavemente em meu rosto, de repente não estava mais com os olhos fixos em mim.

— Como assim Tooth?! – Segurei seus dedos procurando por seu olhar distraído, tinham feito algum tipo de lavagem cerebral nela?!

— Não importa mais, Jack. – Ela voltou a flutuar, mais do que dispersa, Tooth parecia não se importar com nada. – Tudo vai acontecer conforme planejado, não podemos mudar um futuro que já está escrito. Vocês viram, eu vi, tudo em nos nossos sonhos, tão claro quanto água.

— Está dizendo que desistiu Tooth? Isso não está parecendo nada com você.

— O que estou dizendo North é que não importa o que fazemos, não damos um passo para frente, estamos sempre atrás. Olhem para mim, – Ela pareceu se irritar um pouco, ao mesmo tempo notei uma pequena movimentação nos outros casulos espalhados. – tentamos de tudo para impedir que isso ocorresse, mas não adiantou de nada. As crianças estão ameaçadas, os guardiões estão fracos, eu me transformei e você, – Toothiana se virou para Cupid. – não importa o que faça você irá esquecê-lo completamente. Até o Halloween, tudo vai mudar então me diga, – Elevou sua mão direita na direção dele. – por que eu não deveria retirar essas lembranças de você agora?

— Tooth. O que está fazendo? – Bunny parecia tão perdido quanto eu.

— Quero mostrar que sou melhor do que ele. Ele não me ajudou quando pedi, então eu irei ajuda-lo assim. – A palma da sua mão brilhou, Cupid demonstrou seu espanto e não pude me conter mais, no instante seguinte estava entre os dois. – Jack? – Novamente a movimentação nos casulos, agora eles pareciam rachar.

— Não posso deixar você fazer isso. Não é assim que fazemos as coisas, nunca foi assim. – Tooth pareceu se irritar.

— Tooth, o dono da sombra do Breu fez alguma coisa com você, vamos para a casa de North, lá podemos descobrir como reverter essa situação. – Bunnymund tentou apaziguar a situação se aproximando lentamente da guardiã, tocando em seu braço levemente.

— O problema Bunny é que eu – Ela cortou seu gesto. – não quero reverter essa situação. Pela primeira vez em anos me sinto livre e não vou deixar vocês tirarem isso de mim. – Os casulos terminaram de rachar e de dentro deles saíram as fadinhas, até mesmo daquele que Bunny segurava, todas estavam como Toothiana, havia trocado suas cores para o preto e o dourado, assim como suas asas de fada substituídas por asas de borboleta. Não muito longe dali vi algumas fadinhas trazendo dois objetos em suas mãos. – Sabe de uma coisa North? Fazia muito tempo que eu não empunhava espadas. – Assim que elas chegaram Toothiana segurou os dois objetos revelando serem duas espadas. – Quero ver se ainda me lembro de como usá-las... – Ela fazia movimentos leves enquanto North e Sandy procuram se reunir a nós. – Pode me ajudar a recordar? – Tooth o encarou sombriamente, aquela realmente não parecia ela.

— Eu até poderia Tooth, mas me desculpe, não vou lutar contra você.

— É o que veremos.

Mas antes que ela pudesse fazer qualquer movimento ouvi duas batidas e o chão tremeu, abrindo um buraco enorme que nos sugou para dentro, no minuto seguinte estávamos caindo para a escuridão, deixando uma Toothiana que não parecia ser nossa aliada para trás.