A Origem dos Guardiões – O Guardião Primordial

CAPITULO XV – ... QUE VIRAM PESADELOS (PARTE II)


Posso garantir que atravessar uma parede de areia não é confortável. Você sente aquela coisa em cima de ti e tudo fica pinicando, das cabeças aos pés, você se sente sujo em outras palavras, então imagine a minha alegria quando aparecemos em um novo local e toda aquela sensação sumiu no mesmo instante, era maravilhoso.

Logo atrás de mim veio Sandman que surgiu praticamente empurrando, fazendo com que voltasse pra realidade, mas não a verdadeira, a do momento mesmo. Estávamos em uma floresta, ao menos parecia com uma, e aparentemente era noite.

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North estava a poucos passos de nós, com Tooth tremendo em seus braços ainda, estava horrível vivenciar aquela situação, nunca imaginei vê-la daquele jeito, logo ela que costumava ser tão alegre. O guardião a repousou no chão cuidadosamente enquanto analisava o local como nós.

A floresta que nos encontrávamos não aparentava estar viva. As árvores estavam sem folhas e flores, haviam apenas os galhos secos dando silhuetas sinistras, os arbustos tão secos quanto as árvores, no chão um pouco de grama ainda lutava por sobrevivência. E além disso algumas formas peculiares que não se encaixavam muito, pareciam espinhos pretos enormes que se espalharam e saiam do próprio chão, vindo de todas as direções. Passei a mão por cima deles e tive a estranha sensação de ser sugado, como se minha energia estivesse sendo absorvida, "O quão real esses sonhos têm sido?"

— Sandy, quanto tempo ainda temos? – Sandman fez sua areia se transformar em sua ampulheta, mais da metade da areia já tinha caído, o que significava que já tinham se passado mais de meia hora.

— O que pode acontecer, North? Caso não retornemos nos próximos minutos?

— Em circunstâncias normais, nada seria tão grave, a questão é que estamos em sete e estamos tendo uma influência maior fora a areia mágica de Sandman, podem haver consequências ao acordarmos. – Voltei meu olhar para Tooth, se não fosse pela sombra de Pitch, o plano poderia ter funcionado corretamente, mas sua aparição havia trazido grandes problemas e ela era quem estava sofrendo muito mais no momento.

— Não deveríamos acordar Tooth? Ela está muito fragilizada aqui.

— Estou cogitando essa ideia, mas receio que se a tirarmos agora, nesse estado, pode ser pior. – Assenti, porém precisávamos tomar uma decisão rápida, ainda faltavam três sonhos para atravessarmos. – O que acha, Sandy? Devemos acordá-la? – Sandman a observou com um olhar preocupado, talvez North estivesse certo, fazê-la retornar naquele estado, não parecia ser uma boa ideia.

— Não. – Toothiana abriu os olhos e tentou sentar se apoiando em North. – Eu estou bem. Não vou deixá-la vencer assim.

— Tem certeza, Tooth?

— Tenho, vou continuar. – Após dizer isso, Tooth tentou ficar de pé, North continuou a lhe oferecer apoio até que ela pudesse se equilibrar sozinha. – Muito bem, Sandman, sabe nos dizer de quem é esse sonho? – Sandy apenas deixou que um ponto de interrogação surgisse em sua cabeça, mais uma vez deveríamos procurar pelo guardião responsável por outro sonho, estava começando a ficar cansado disso.

— O que faremos agora? Não podemos ficar andando para qualquer lado, vamos perder muito tempo assim.

— Vamos pensar um pouco, Jack, de repente... – North não terminou sua frase, alguma coisa tinha chamado sua atenção, seus olhos pareciam estudar alguma coisa atrás de mim, virei meu corpo procurando pelo que ele observava, Toothiana e Sandman seguiram meus movimentos, então retornei a encará-lo.

— O que foi?

— Essas coisas... – Ele chegou a apontar para os espinhos pretos, porém não consegui ver diferença alguma. – Estão aparecendo mais. – Voltei a olhá-los e entendi. Realmente mais alguns espinhos tinham crescido e alguns outros estavam crescendo também.

— Não deve ser nada demais. – Porém estava muito errado, assim que terminei minha frase, um deles cresceu rapidamente do meu lado, quase me atravessando, se não estivéssemos em um sonho aquilo poderia ter doido. Todos entraram em estado de alerta, observando o crescimento dos espinhos.

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— Vamos nos afastar deles primeiro, depois resolvemos o que fazer. – O problema foi que ao nos virarmos para o outro lado, mais espinhos cresceram, North tirou da bainha suas espadas e tentou cortar um deles, porém no mesmo instante que as lâminas encontraram o espinho se quebraram. Ele nos encarou tão surpreso quanto nós.

Foi então que consegui ouvir algo sendo sussurrado pelo vento, parecia uma canção.

— Estão ouvindo isso?

Aquela voz, nunca tinha ouvido nada do tipo antes, era tão bela, mas ao mesmo tempo tão triste. Parecia puxar as minhas forças, fazendo com que elas saíssem do meu corpo e o mesmo parecia acontecer aos outros.

Murche até cair, dê ao destino um fim,

Por um momento os espinhos pareceram desacelerar o crescimento.

— Pessoal, vamos embora agora. – North largou os cabos das espadas e começou a caminhar para um lado onde não tinha nenhum espinho ainda, mas nossa velocidade parecia reduzida e aquela música não parecia parar.

Livre o que se prendeu, e deixe a alma fluir...

E mesmo que conseguíssemos nos afastar o suficiente, o vento parecia querer deixar aqueles versos rondando em nossos ouvidos.

Leve o que se feriu, não lhe mostre dó,

Continuamos atravessando a floresta, passando por mais algumas árvores mortas, porém chegamos em algum lugar onde ainda havia algumas vivas, suas folhas estavam apenas amareladas dentre tantas verdes, os arbusto já tinham mais folhas também, mas a canção continuava a nos perseguir, apesar de já termos recuperado parte da nossa força.

Corte a raiz, e deixe a alma fluir...

Cansados de tanto correr, North e eu paramos um pouco para recuperar o fôlego, diferente de Sandy e Tooth que tinham apenas voado, nos acompanhando e nos guiando para escapar dos espinhos. Enquanto pegávamos um pouco de ar, ouvimos um barulho, meu coração acelerou pensando ser novamente os espinhos indestrutíveis, porém me acalmei ao ver quem tinha saído de trás de alguns arbustos; Bunnymund, e ele parecia um tanto desconfiado, ficou parado ali, nos analisando.

— Vocês são os reais ou apenas partes desse sonho? – Finalmente ele quebrou o silêncio. Era mesmo ele?

— Bunny? É você mesmo? – Foi eu quem perguntou, a expressão dele mudou, pareceu ter ficado mais relaxado, todos respondemos respirando aliviados, aquele era o pesadelo de Bunny então?

— Ainda bem que estão aqui, mas o que aconteceu não era para estarmos todos juntos?

— Tivemos um pequeno contra tempo, parece que a sombra de Pitch resolveu nos fazer uma visita de última hora e acabou nos separando em meio aos sonhos. – Respondi, Bunny apenas balançou a cabeça.

— E agora não temos muito tempo, vamos aproveitar que já encontramos você e vamos para o próximo sonho, se a ordem estiver certa, provavelmente deve ser Cupid. – North nos apressou, era fato que deveríamos agilizar com o plano, porém as palavras de Nightlight ecoaram para mim: “... preste muita atenção aos pesadelos.” E alguma coisa me dizia para seguir sua orientação.

— Bunny, esse é o pesadelo que você tem tido desde a cidade do Halloween? – A pergunta escapou da minha boca, foi automático, mas foi o suficiente para que os outros parassem para pensar no assunto também. O guardião me encarou de volta.

— Sim. – Finalmente respondeu e então tive um outro pensamento passou pela minha cabeça.

— Todos esses pesadelos são os mesmos da cidade do Halloween? North, Tooth? – Se aquilo era verdade, Nightlight quer que prestemos atenção aos pesadelos, então isso poderia significar que eles são reais, de alguma forma estão próximos a realidade. Os dois confirmaram minhas suspeitas e tinha decidido, não poderíamos ir embora, ainda não. – Bunny, o que aconteceu aqui? Onde estamos?

— Jack, o que houve? Por quê essas perguntas agora? – Tooth questionou antes que Bunny pudesse responder, respirei fundo, não queria contar a eles ainda que tinha conversado com Nightlight, até porque aquele poderia muito bem não ser ele e sim apenas mais uma fantasia causada pela sombra de Pitch. Precisava ter certeza.

— Olha, não posso explicar agora, preciso que vocês confiem em mim, mas acho que devemos entender os pesadelos um do outro. – Eles se entreolharam, parecendo conversar com o olhar, talvez o que eu estivesse falando pudesse ser íntimo demais.

— Tudo bem. – Bunny quem se pronunciou primeiro. – É verdade que não paramos para discutir sobre os nossos pesadelos depois da cidade do Halloween, apenas sabíamos o que estava acontecendo, porém não como estava nos afetando. – Ele repousou uma das mãos no meu ombro direito. – E se o que ouvimos for verdade e esses pesadelos nos mostram parte de um futuro que queremos evitar, então creio que é melhor vocês verem isso.

Ele passou reto por nós e caminhou devagar, os outros não tiveram outro alternativa a não ser segui-lo. Suspirei aliviado, por mais que quisesse ajudar Cupid, iria ajudá-lo do jeito certo, tendo todas as possíveis informações em mãos, se esses pesadelos são realmente o que penso, então talvez em algum deles encontremos alguma dica do que fazer em seguida, afinal, que mal faria tentar?

Conforme caminhávamos, a floresta já parecia estar mais florida, e a música tenebrosa de antes não estava mais presente, nem mesmo aqueles espinhos e em algum momento Bunnymund parou em frente a uma a uma parede de pedras com uma cortina de cipós que cobriam grande parte dela. Ele esticou os braços e colocou para dentro dos cipós tocando a parede, como se estivesse procurando alguma coisa, por fim ele pegou uma quantidade dos cipós e os arrancou, revelando o que havia por trás deles: uma rachadura com uma coloração esverdeada diferente, ao invés do que se esperava realmente ver.

— Me acompanhem. – E seguiu para dentro da rachadura. Nós fomos logo atrás, assim que passamos pela rachadura nos deparamos com uma espécie de reino, era diferente do Palácio das Fadas e do Castelo do Amor, onde ambos eram construções enormes, ali era tudo feito em árvores enormes. – Você queria saber onde nós estávamos… Bom aquela floresta é um dos domínios mais próximos da Mãe Natureza e este é o seu império. – Todos ficamos surpresos, e por incrível que pareça dela já ouvi falar e sei que ela não gosta muito de mim não… – Não é qualquer um que pode entrar aqui.

— E por quê seu pesadelo está relacionado a ela? – Tooth se pronunciou pela primeira desde que saímos da floresta.

— Por conta daquilo… – Bunny apontou para a rachadura que tínhamos acabado de passar, era possível ver através dela as sombras dos cipós as guardando do outro lado. Nada tinha acontecido ainda, até aquela canção retornar junto dos espinhos. O vento trazendo os seus sussurros, o cansaço tomando conta novamente.

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— Bunny o que é isso?

— Ainda não descobri, Jack. Só entendi que a floresta está morrendo e isso está chegando até aqui. E então… – Voltei a encarar Bunnymund, porém ele estava ocupado.

No chão, há alguns passos de nós, estava uma pessoa caída de barriga para cima, usava um delicado vestido com uma espécie de sobretudo de renda bege quase transparente por cima, tinha os cabelos verdes e uma coroa de flores enfeitava. O cabelo estava tão bagunçado que chegava a esconder seu rosto, só não ocultava os poucos desenhos em sua pele que pareciam ter um brilho esmeralda. Cheguei mais perto assim como os outros guardiões.

Bunny se aproximou dela e segurou sua cabeça, tentava arrumar os fios que escondiam seu belo rosto, ao sentir seu toque ela levantou o braço tocando seu rosto. Seus dedos pareciam ter anéis que brilhavam do mesmo que os desenhos.

Aster, você voltou… — Ouvimos ela dizer, a voz fraca. “Aster?!

— Sim. – Escutei um estrondo e quando voltei a olhar para a rachadura vi pedras caindo no chão assim como algumas árvores. – Sempre vou voltar.

Aster… Você tem que… — Ela tentou falar, mas não conseguia, enquanto isso os espinhos começavam a crescer em nossa direção.

— Hum… Bunny? – North tentou chamá-lo.

— Tenho que proteger a floresta, eu sei.. Poupe suas energias agora.

Não…— Ela tossiu. – Santoff Claussen, você tem que ajudar a protegê-la… Ele não pode chegar lá…— Ótimo, mais um vilão sem nome? E o que tem de tão importante nessa Santoff Claussen?

— Sandy, prepara a nossa saída, vamos embora daqui agora. – North continuou mesmo que Bunny não o tivesse ouvido, enquanto Sandman começava a usar sua areia para nos tirar dali, segurei meu cajado com um pouco mais de força. – Bunny, lembre-se isso é apenas um pesadelo, nada disso é real.

— Como pode ter tanta certeza, meu amigo? – Bunny não tirava os olhos dela, parecia estar hipnotizado.

— Vai ter que acreditar em mim. – North esticou a mão para Bunny para que ele pudesse levantar, mas ainda sim ele não tirava os olhos dela. – Bunny!

Vá, Aster… Vá com eles… Eu vou ficar bem…

— Eu vou, mas eu retorno.

Você sempre volta…— Ela tentou esboçar um sorriso, Bunny repousou sua cabeça no chão novamente e se levantou, ignorando a ajuda de North e indo em direção a Sandman que já tinha feito um novo portal com sua areia.

Bunnymund foi o primeiro a atravessar dando uma última olhada na garota que tinha deixado para trás, ele foi seguido de Toothiana e depois de mim. “Agora sim. Por favor, Cupid, aguente mais um pouco, estamos indo até você”, este era o único pensamento que passava pela minha mente quando me entreguei a areia mágica de Sandy mais uma vez. Cupid.

❄❅❆❆❅❄

Mais uma vez atravessado pela areia de Sandman, partindo para mais um desses pesadelos causados pela sombra de Pitch e estava na esperança de que fosse Cupid quem iríamos encontrar, porém alguma coisa me dizia que ainda não era ele e se não fosse quem era?

O lugar o qual estávamos dessa vez parecia ser uma cidade grande, com aqueles prédios enormes e algumas poucas casas por perto, e de novo era noite. A lua brilhava cheia no céu e conforme caminhávamos ela continuava a nos seguir, “Será que estamos no lugar certo?

— E agora? – Resolvi perguntar enquanto observava as ruas da suposta cidade, ali estávamos numa parte um pouco mais humilde, os grandes prédios estavam bem a vista a uma certa distância de nós.

Porém antes que a pergunta pudesse ser respondida, ouvimos o barulho de algo feito de metal caindo no chão, seguido de um chiado. Ninguém disse nada, mas quando dei por mim já estava seguindo Bunnymund, que utilizava sua audição para seguir o que estava causando todo aquele barulho, não foi muita surpresa quando a silhueta do bagunceiro se tornou mais visível, o que foi surpresa mesmo foi quando vimos o motivo de sua correria.

Lá estava ela mais uma vez com aquelas enormes asas de borboleta, vestida de preto, com os detalhes dourados e tudo mais. Ela voava rapidamente atrás de um rato enquanto o coitado corria o mais rápido que podia.

Em meio a nossa correria consegui captar o olhar de Toothiana e ela estava tão confusa quanto eu, mas ainda sim se manteve determinada. Assim como o rato, já tínhamos passado por vários becos e ainda sim o roedor continuava a correr, foi então que percebi um pequeno padrão, os becos pareciam se repetir, e as nossas viradas sempre a direita indicavam que estávamos andando em… Círculo.

Impulsionei-me o mais forte que pude e peguei a mão de Toothiana.

— Jack, o que está fazendo?! – Ela estava claramente zangada, mas antes que ela pudesse retornar a nossa perseguição sem fim, a segurei mais uma vez e pulei para cima de um prédio com ela.

— Tive uma ideia. – Tooth continuou me encarando e mesmo que estivesse apreensiva, tentou ao máximo me dar atenção. – Quando eu disser: já!, quero que você voe e segure o rato.

— Do que está falando Jack? Eles vão se afastar.

— Não. Nós estamos correndo em círculos, pense se aquela coisa quisesse realmente pegá-lo já teria feito, esse é o medo dele, esqueceu? Estamos em um pesadelo. – Tooth ainda não pareceu concordar comigo, mas parecia tentada a acatar a ideia.

— Certo. Em qual momento faremos isso?

— Se eu estiver certo… – Ela me encarou irritada. – E sei que estou. – Sorri enquanto virava o corpo para trás, se a teoria estava certa e estávamos realmente correndo círculos pelos becos e ruas, então eles viriam logo atrás de nós. – Eles aparecerão por ali em breve. – Apontei com o cajado. – Se posicione, não vai demorar. – Mirei em um ponto visível, próximo de uma lata de lixo caída no chão, o pobre roedor já tinha pulado tantas vezes em cima dela e nem deve ter notado.

— Jack… Sobre o que aconteceu no meu pesadelo… – Toothiana parecia desconfortável de repente, e não tinha como tirar sua razão, o que ela estava sonhando esse tempo todo era perturbador e rever aquela criatura mais uma vez, não deveria estar fazendo muito bem, e ela estava sendo forte o suficiente para encarar isso. – Eu…

— Tooth, não se preocupe. – A encarei. – Nós vamos enfrentar tudo isso juntos. – Ela precisava apenas entender que não estava sozinha e que ela era sim forte. – Como vocês fizeram com Pitch na primeira vez, e como fizemos juntos na segunda… Vamos estar juntos mais uma vez. – Ela sorriu para mim e correspondi sorrindo de volta, não era justo que ela precisasse ouvir isso de mim para se sentir melhor, mas uma hora ela entenderia. – Veja, – Ouvi os chiados do roedor, ele estavam se aproximando. – lá vem eles.

Voltamos as nossas posições comigo mirando no lugar de antes e ela se preparando para voar. Continuei encarando e quando vi a silhueta do rato se preparando para pular a lata de lixo mais uma vez, gritei para Toothiana, ao mesmo tempo em que ataquei com um raio de gelo. Foi tudo bem rápido, quando o pequeno roedor pulou a lata, meu raio atingiu a outra Tooth, enquanto a verdadeira voava e pegava o fugitivo.

As espadas de North logo apareceram quebrando a parede de gelo junto da outra Tooth que logo desapareceu. Retornei para eles enquanto North e Bunnymund pareciam extremamente ofegantes.

— Podia ter nos dito o seu plano né Jack. – Bunny reclamou.

— Foi de última hora. – Respondi quando me aproximei deles, Tooth segurava o roedor com as duas mãos.

— Acalme-se por favor, não vamos lhe machucar. – Ela tentava acalmá-lo, conseguia ouvir seu coração e sua respiração.

Você não, mas e a outra?!— Uma voz aguda gritou parecendo agoniada, “De onde veio isso?” E não era só eu quem estava com aquela reação. Procurei pelos olhares de Tooth, North, Bunny e até mesmo Sandman, ninguém sabia de onde aquela voz tinha vindo. – Fui eu quem falou!— Voltamos nosso olhar para o pequeno animal nas mãos de Toothiana.

— Espera, então você sabe falar? – Bunny o questionou, todos estávamos intrigados com a situação, ou seria isso apenas parte do sonho?

Se até você, um coelho, sabe falar porque eu não conseguiria? – Vi Bunny segurar em seu boomerang, mas Toothiana puxou o roedor para mais perto de si, enquanto North e Sandman buscavam acalmar o guardião.

— Escute, isso aqui é um sonho, nada disso é real. – Tooth cochichou para o animal em suas mãos, porém pareciam que suas palavras eram para recordar a si mesma. – A outra não vai te machucar aqui, vou te soltar agora, ok? – Os dois pareceram entrar em um acordo, Tooth o soltou em cima de uma caçamba de lixo deixando ele numa altura próxima a nossa. O bichinho, no entanto ainda estava desconfiado.

— Queremos fazer apenas algumas perguntas a você, se puder nos responder, seremos muito gratos. – Foi a minha vez. – Por quê os ratos estão evitando falar com Toothiana? – Aproximei-me, ficando ao lado de Tooth, North, Sandy e Bunny fizeram o mesmo, sem querer estávamos cercando-o, de primeira ele ficou meio aflito, mas depois respirou profundamente e resolveu nos responder por fim.

Nos desculpe, sra. Toothiana, não temos feito por mal. Todos nós fomos ameaçados por ela, a Falsa Fada do Dente.— “Falsa Fada do Dente?”, então eles sabem que não é a verdadeira que tem aparecido. – Alguns de nós ainda tentaram manter o trabalho, porém ela sempre aparece para nos espantar.

— Por quê não nos procuraram antes? – Bunny questionou.

Ela ameaçou destruir as memórias das crianças caso chamássemos os guardiões. — Apesar das poucas expressões que o pequeno animal tinha, era possível sentir o seu medo e receio, só de estar falando conosco.

— E o que ela tem feito com essas memórias? – Tooth pareceu aflita. Guardar as lembranças era parte do seu dever de proteger as crianças e se ambas estavam em perigo…

Não sabemos. Ela apenas aparece e as rouba de nós. Tentamos procurar seu esconderijo, mas ela some do mesmo jeito que aparece, sem deixar rastro algum.

— E há quanto tempo isso vem acontecendo? – Foi a minha vez de perguntar, o roedor pareceu pensar um pouco.

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Assim que soubemos que Pitch Black havia se desfeito em areia percebemos uma perturbação entre as crianças… Elas estavam assustadas, de um tempo para cá pararam de colocar os dentes debaixo dos seus travesseiros, haviam rumores que a Fada do Dente não estava boazinha e ao invés de deixar presentes, estava espalhando o horror.

Foi quase como um click em minha mente, não era uma escolha estranha de palavra, porém fez com que recordasse da profecia citada por aquele lobisomem da Transilvânia e o que ele havia dito para Cupid depois: “Há mais coisas na sua biblioteca do que você consegue imaginar.” E se Nightlight de alguma forma soubesse de tudo o que estava acontecendo e tivesse deixado pequenas pistas para nós… E uma delas estivesse na biblioteca de Cupid? Puxei North para o lado, deixando que os outros pudessem continuar a conversa com o rato.

— O que foi Jack?

— O que acontece com quem lê o tal Livro da Vida?

— Por quê…

— O que acontece? – North viu alguma coisa em meu rosto, talvez fosse a seriedade do momento.

— O Livro é como um registro de tudo, desde a vida até a morte, passado e futuro, mas não é qualquer um que consegue lê-lo, uma vez que ele mesmo escolhe quem o pode decifrar. – E se Nightlight realmente o leu, então ele saberia de muita coisa, muita coisa mesmo.

— Temos que ir. – Conclui.

— O que foi, Jack? O que está pensando?

— Vamos atrás de Cupid primeiro. Aposto que nosso tempo está acabando e sabe-se lá se pode acontecer alguma coisa se não estivermos juntos para ir embora daqui, ainda mais com a sombra de Pitch lá fora, não estamos seguros aqui.

— De quem foi a ideia de invadir o resto dos sonhos?

— Eu sei, mas agora já estamos reunidos e só falta Cupid, vamos encontrá-lo e sair daqui de uma vez. – North assentiu e retornou para os outros que conversavam com o rato ainda.

— Muito bem, meus amigos, já conseguimos o que queríamos aqui, vamos nos reagrupar e sair desses pesadelos, lembrem-se que a sombra de Pitch ainda está manipulando tudo. – Foi apenas North terminar sua frase que ouvimos uma gargalhada, não parecia em nada com a de Pitch, então talvez não fosse sua sombra.

— Guardiões tão inteligentes. – Sua voz era igual a de Toothiana, porém soava mais perversa, muito pior do que o que ouvimos em seu pesadelo. – Mas por favor, deixem que eu lhes ajude a chegar ao próximo show. – O ratinho chiou e correu para a nossa Toothiana enquanto não muito distante de nós saia das sombras aqueles olhos alaranjados e sua silhueta se formava. – Não se preocupe, meu pequeno roedor, não estou atrás de você agora, é mais interessante quando se está acordado. – Segurei firme em meu cajado, Bunny e North também entraram em estado de alerta, se preparando para o que quer que pudesse vir a seguir. – Vamos, me acompanhem. – Ela saiu de seu esconderijo e voltou a flutuar para a direção oposto de onde estávamos, no segundo seguinte uma fenda apareceu em seu lugar.

Não tinha nenhum barulho ressoando no ambiente, porém de dentro daquela fenda ouvi um grito, meu coração palpitou, reconheceria aquele desespero em qualquer lugar. Era o nosso convite e aceitamos sem nem pensar direito.

Devo ter sido um dos primeiros a atravessar aquela fenda e enquanto vagava por aquela escuridão ouvi ressoar como eco em uma caverna, as últimas palavras da Falsa Fada do Dente:

— Vocês vão ver o que é pesadelo de verdade agora.

❄❅❆❆❅❄

Não demorou muito e estava em mais um novo ambiente com os outros guardiões logo atrás de mim. Na nossa frente havia o que parecia ser um espelho e atrás de nós havia outro. Caminhei na direção do espelho da minha frente mesmo e coloquei a mão em cima, deslizando para esquerda e para a direita, Bunny fez o mesmo no outro, ambos estavam em uma parede.

North se dirigiu ao lado direito e Tooth ao outro, cada um encontrando mais uma parede, estava claro, era uma espécie de sala. Uma sensação ruim percorreu o meu corpo, Cupid estava ali em algum lugar, porém as palavras da Falsa Fada do Dente ainda ecoavam pelo ambiente.

— E agora? – Bunny parecia estar mais impaciente que o resto de nós, mas foi só ele abrir sua boca que o espelho que eu tinha supervisionado mostrou uma imagem, todos nos viramos para ela, era Cupid.

Ele estava no centro de algum foco de luz de pé com os olhos fechados, mas o que mais preocupava era a expressão que ser rosto mostrava. Ele estava sofrendo e as lágrimas escorrendo pelos seus olhos confirmavam isso. De repente ele se gritou e fogo surgiu no seu corpo, parecia abraçá-lo. Seu grito foi horrível, seguido de seu choro, senti uma pontada em mim, nem percebi que estava batendo no vidro gritando pelo seu nome, ele tinha de saber que era apenas um pesadelo.

— Jack! Se acalme! – North tentava me conter, só queria ajudar, por quê ele estava gritando?! Enquanto isso o outro espelho começou a mostrar outras imagens. – Veja.

Assim como os outros comecei a observar o outro espelho, o que ele nos mostrava era claramente Cupid com alguma outra pessoa, porém era impossível identificá-la, mas porque me parecia tão familiar? A cena que se passava parecia ser bem inocente, por mais que conseguíssemos ouvir a voz do guardião do amor, não era possível ouvir a voz do seu companheiro, ou ver seu rosto. Era apenas uma silhueta que víamos, nada mais, nada menos, mas por alguma razão Cupid parecia feliz conversando com ele, foi então que compreendi aquele sorriso. Ele não sorriria para qualquer pessoa, sempre ficou claro que ele olharia para apenas uma pessoa nesse mundo, pelo menos atualmente, e somente ela lhe traria a felicidade, por isso estava tão radiante ali, era com Nighlight que ele estava. Por mais que tudo aquilo fosse um sonho, pude sentir meu coração acelerar e já começava a entender o porquê, eu queria tudo aquilo pra mim…

Tive que desviar o olhar do espelho ou então poderia quebrá-lo, a situação não melhorou nada quando meus olhos encontraram Cupid outra vez, desta vez no outro espelho, dessa vez sua expressão estava mais calma, ainda tinha um caminho de lágrimas em seus olhos, mas ele parecia mais feliz, fechei a mão, usando os dedos para fincar na palma dela, tentando controlar a raiva, não podia estar assim, porém estava, nem percebi que estava de olhos fechados até ouvir alguém me chamando. Era a mão de Tooth que estava em meu ombro me virando para o outro espelho, quando abri os olhos entendi o porquê. A cena tinha mudado de novo.

Cupid estava correndo e acabou de encontro com alguém, o lugar parecia uma floresta, mas tudo estava tão embaçado e tudo que podíamos ver era o guardião abraçando fortemente a outra pessoa, provavelmente Nightlight visto que não era possível ver muito dos seus detalhes. Depois do abraço eles continuaram conversando.

— Estou tão feliz de você estar de volta. Não tem ideia de quanto tempo passei te procurando. – Cupid impediu que uma lágrima caísse de seu olho, mas por instinto voltei meu olhar para o espelho onde o verdadeiro ainda estava de olhos fechados, mais uma vez seu semblante havia mudado, alguma coisa estava errada, retornei para o outro espelho. O guardião o olhava com tanta intensidade, parecia que eles iam se beijar a qualquer momento, isso se um terremoto não os tivesse atrapalhado. – O que foi isso? – De repente já sabia do que aquele pesadelo se tratava. – Nightlight? – Eles não se encaravam mais, estavam de olho em alguma coisa que acontecia não muito distante deles. – O quê? – Ia começar agora, aquele rosto desesperador que ele demonstrava sempre que comentava sobre aquele momento. Nightlight estava falando ele. – Não, por favor, não me deixe. – Cupid segurava em sua mão querendo arrastá-lo para longe dali, teve um momento em que até abriu suas asas para usar sua força, mas o outro parecia decidido, Nightlight usou sua força para puxar o guardião para si e selar seus lábios, o ódio me consumiu outra vez, “Não faça isso seu idiota!” eu queria gritar, mas contive. Depois que eles se separaram o outro lhe disse alguma coisa, não conseguimos ouvir, mas sabia exatamente o que ele havia lhe dito: Você estava certo. – Nightlight, não! – E ele foi em direção ao que estava acontecendo, Cupid até tentou seguí-lo, mas algo o empurrou para longe. Depois quando ele tentou se levantar, uma luz irradiou tudo por alguns instantes e sumiu, Cupid olhava incrédulo para tudo o que tinha acontecido, as lágrimas já caindo de seus olhos. – Não! – Ele gritou.

Não aguentei, retornando meu olhar para o outro lado, a cena era quase a mesma, Cupid chorando sem cessar junto de um grito horrível. Uma chama se acendeu em seu corpo em ambos os espelhos e o consumiu, o guardião estava literalmente em chamas, e nada parecia acalmá-lo, porém no outro espelho na cena em que havia se passado, aquele Cupid estava no chão e apesar de não conseguirmos ver seu rosto mais, vimos o que acontecia com ele ali. Suas asas. Suas asas de dragão pareciam queimar junto às chamas virando cinzas.

Voltei a bater no espelho na esperança de que o mesmo começasse a rachar e nós pudéssemos fazer alguma coisa, porém fui segurado por Bunny.

— Ainda não Jack! Veja! – Estava frustrado demais para prestar atenção que nem percebi que as coisas tinham mudado, tanto de um lado quanto do outro. Cupid ainda tinha lágrimas em seus olhos, mas parecia calmo novamente, enquanto isso no outro espelho uma cena se passava.

Era mais um momento em que o guardião estava feliz, ao lado de Nightlight.

— Imagine só… – Uma voz familiar ecoou. – Quantas vezes ele já passou pela mesma imagem. – Meu olhar alternava de um espelho para o outro. – Quantas vezes ele chorou por uma pessoa que nem consegue mais ver o rosto. – Houve uma risada maliciosa. E a cena anterior se repetiu, Cupid reencontrando Nightlight, aquele adeus, a explosão de luz, o grito sufocante dele. Aquilo se repetiu mais uma vez, outra cena, mas sempre o mesmo fim.

Bunny já havia afrouxado o aperto, então aproveitei e me soltei, dessa vez batendo no espelho com mais força deixei que sua superfície congelasse e ficasse ainda mais frágil com as pancadas, recebi ajuda dos outros guardiões enquanto as cenas continuavam logo atrás de nós e na nossa frente Cupid se envolvia em chamas mais uma vez.

Até que por fim o espelho cedeu e em meu último soco quebrando em vários pedaços, assim logo na primeira oportunidade sai correndo de encontro com Cupid, porém o que ninguém esperava aconteceu, pois assim que encostei em seu ombro e seus olhos finalmente se abriram, tudo mudou para nós.

❄❅❆❆❅❄

Nenhum dos guardiões e muito menos Cupid estavam em nenhum lugar perto, pelo foi menos foi isso que parecia, até o momento em que ouvi a voz que fazia meu coração disparar como um louco em meu peito.

E eu acho que... Acho que a culpa é minha...— Em seguida Bunny e Sandy apareceram assim como todo lugar. Estava de volta na Transilvânia, de volta ao dia em que de alguma maneira fui expulso de meu próprio corpo.

Mas o que houve Cupid?— Bunny insistiu.

Vejam vocês mesmos. — Cupid apontou para o alto, e tendo a certeza de que ninguém via ou ouvia ali, juntei-me a eles. Lá estava "eu" pulando de um lado para o outro com uma tempestade carregada logo acima.

E por quê você acha que isso é culpa sua? Jack nunca bateu bem da cabeça, sabe?— "Ei!"

Dessa vez, parece diferente, em um minuto nós estávamos conversando, e então...

E então o que?— Cupid pareceu ter tido alguma ideia, mas essa não era a maior preocupação de Bunny, logo atrás de nós vários hóspedes se juntavam para ver o que ocorria, todos pareciam assustados, e o guardião via isso. – Precisamos pará-lo agora, está assustando a todos, não queremos uma guerra nesse momento.— Ele estava certo.

O que faremos então?

Primeiro, vamos afastá-lo do Hotel, assim eles podem relaxar um pouco enquanto tentamos reverter o que quer que tenha acontecido com ele. — Cupid assentiu, não era exatamente um plano, mas era um começo.

Enquanto o guardião do amor levantava voo, Sandman se juntou a Bunnymund e os dois levitaram juntos em uma areia de neve, aproveitei antes que se afastassem demais e pulei junto deles. Bunny segurava seus dois bumerangues nas mãos e quando chegou mais perto de "mim" os atirou para chamar a atenção, e até que funcionou, mas nada foi dito, houve apenas um sorriso malicioso enquanto o falso "eu" movimentava as mãos. Da grande tempestade várias estacas de gelo eram atacadas contra nós, felizmente Sandy usou parte de sua areia para nos proteger.

Cupid também tinha enfrentado as estacas e tentava a todo custo desviar de todas, quando uma delas atingiu uma de suas asas, fui atingido pelo desespero e parece que o outro "eu" havia sentido também, pois no mesmo instante ele pareceu mais irritado enquanto o guardião tentava se recompor no ar.

Eles não está facilitando para nós. E por quê será que ele está com o arco de Cupid?— Se eles ao menos conseguissem tirar aquele maldito arco das minhas mãos, tudo ficaria mais fácil. Pelos menos tinham conseguido passar por ele e agora estávamos todos do lado oposto ao Hotel. – Jack! Pare com isso e nos diga o que está acontecendo!— Bunnymund queria tentar conversar comigo, apesar de tudo, creio que ele não queria realmente brigar, não enquanto fossemos companheiros e estivessemos do mesmo lado, procurando as mesmas coisas, porém tudo o que recebeu em resposta foi outro sorriso perverso. O falso "eu" deu mais um pulo e girou seu corpo, parecia que ia chutar alguma coisa e quando finalizou seu movimento uma grande nuvem densa veio ao nosso encontro. – Droga...— Os dois guardiões começaram a tossir, o ar frio era pesado demais. – Sandy... Precisamos sair daqui... Vamos... Ao Cupid...

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Logo a nuvem de areia de Sandman escapou de toda aquela neblina seguindo em direção a Cupid que estava bem próximo do cume da montanha, ele estava com a asa retraída e parecia estar doendo.

Não conseguimos conversar e muito menos atacá-lo, parece estar em um nível completamente superior ao nosso agora...— Bunny pulou da nuvem se juntando ao outro guardião, fiz o mesmo.

O que devemos fazer?

Ainda não sei... Será que chamamos os outros guardiões? O que você acha... — Bunny se virou para encarar Sandman, mas ele já estava distante. – Sandy?! Droga.

Só conseguimos observar a distância enquanto Sandman tentava se aproximar do falso "eu", o mesmo continuava a atacar com as estacas de gelo, e felizmente Sandy era habilidoso o suficiente para escapar e até destruir algumas, quando estava mais próximo ele fez os chicotes de areia, do mesmo jeito em que tinha feito naquela batalha com Pitch.

Daquela vez havia sido pesadelos contra sonhos, porém dessa vez eram sonhos contra o gelo, e mais uma vez Sandy parecia estar ganhando. Parecia.

Temos que pensar rápido, não sei quanto tempo Sandy consegue aguentar contra Frost daquele jeito.

Sim...

Nós já perdemos Sandman uma vez... Não queremos perdê-lo de novo, e não vamos.— Bunny estava determinado e só quem havia vivido aquela perda sabia como era. – Por isso preciso que você me conte como Jack chegou a este ponto. Aquelas roupas, aquela expressão, aquele olhar, não parece em nada com ele.— Cupid suspirou.

Estávamos ali, — Ele apontou. – no cume da montanha conversando, Jack estava tentando lidar com a leva de informações que tínhamos conseguido de Skreeklavick e não parecia estar nada bem. Eu emprestei o meu arco para tentar animá-lo, disse alguma coisa e outra, aconteceu aquela explosão enorme... E quando tudo clareou, ele estava naquelas roupas e por alguns segundos ainda parecia ele mesmo, mas depois mudou completamente sua personalidade.— Bunny pareceu absorver tudo.

Espera.. Então tudo mudou depois que ele pegou seu arco? — Cupid assentiu. – E ele não pegou o cajado dele de volta? — Os dois pareciam seguir a mesma linha de raciocínio.

Pensei a mesma coisa antes de chegarmos aqui. — Ao fundo ainda ouvia a luta de Sandy, suas chicotadas pareciam acertar em cheio, mas por algum motivo não pareciam forte o suficiente contra quem ele estava enfrentando.

Onde está o cajado dele? — O guardião do amor apontou para o cume da montanha. Sim... Se ninguém mexeu em nada ali, era bem provável que estivesse mais a cima de nós. – Ótimo, precisamos fazer uma troca então, ele tem que largar o seu arco e pegar no cajado de novo.

E se não funcionar?

É chute no escuro, mas é um risco que vamos ter de tomar, esse não parece em nada com o Jack Frost que conhecemos. — E não era. – Eu vou ajudar Sandy a distraí-lo, mas creio que a única pessoa que vai conseguir finalizar o plano é você. — Cupid apontou para si mesmo. – Sim, e você sabe o porquê. Ele não consegue e nem vai te machucar, só você consegue fazer a troca, Cupid.

Senti o calafrio, já imaginava o que estava por vir. Bunny e Cupid seguiram para o topo da montanha e encontraram meu cajado largado no chão, enterrado embaixo de um pouco de neve, em seguida Bunny preparou seus bumerangues mais uma vez, precisava chamar não apenas a atenção do meu impostor, mas também da de Sandy, sem machucar ninguém. Quando ele os jogou, Sandy conseguiu dar uma olhada para trás enquanto o outro desvia do ataque, foi uma fração de segundos, mas foi o suficiente para que o recado fosse dado.

O guardião dos sonhos pulou de sua nuvem de areia e enquanto caía ela se refazia em um avião de areia que seguiu em nossa direção junto dos bumerangues de Bunny.

O falso "eu" pareceu ter mordido a isca e logo começou seus pulos em nossa direção.

Fiquei logo atrás de Cupid e Bunny se afastou de nós, assim como Sandy seguiu em outra direção, o impostor seguiu justamente na nossa direção assim que colocou os olhos em nós dando seu sorriso malicioso. Com a mão direita o guardião do amor segurava meu cajado, tentando parecer despreocupado, mas eu conseguia ouvir seus batimentos, parecia que a qualquer momento seu coração sairia de seu peito, só piorou quando o outro chegou e ele olhava diretamente para Cupid, e aproveitava para olhar para mim. Ele sim conseguia me ver.

Cupid... — Pela primeira vez em muitas horas ele resolveu falar alguma coisa. – Sentiu minha falta? — O guardião segurou o cajado com ainda mais força.

Fiquei mais é preocupado com você nos atacando.

Hora essa. — Ele gargalhou. – Estava apenas me defendendo, não foi eu quem começou a atacar aqui.

Você nos assustou Jack, o que é que está acontecendo, hein? — O outro fez um biquinho.

Vai dizer que você não gosta desse meu lado mais divertido, — Começou a se aproximar e Cupid tentou se afastar, ele sabia intimidar. – selvagem, mais viking?

É... É um lado interessante, mas n-não combina com você garoto da neve.— Parei de acompanhá-los.

Ah é? E o que combina então? — Ele arqueou uma sobrancelha e deu um pequeno sorriso de lado, a respiração de Cupid estava pesada, mais do que o normal, mais uma vez ele apertou o cajado, porém dessa vez ele o bateu no chão, como se tentasse manter o foco.

Seu cajado. — Eles trocaram olhares. – Você, inclusive, já pode devolver o meu arco, deve estar cansado de ficar carregando ele por aí.

Mas já? Agora que a brincadeira estava ficando... Interessante. – Cerrei os punhos, o falso "eu" estava se divertindo. – Bom se realmente quer seu arco de volta... — Ele fez menção de entregá-lo, mas antes que o guardião pudesse pegá-lo, o outro retraiu. – Vai ter que me deixar fazer uma coisa antes. — Ele se aproximou mais ainda, quase não havia mais espaço entre os dois, Cupid pareceu estar em estado de choque enquanto o outro me olhava. Eu já não aguentava mais, sendo sonho ou não, não iria deixar que outra pessoa encostasse naqueles lábios e acabei tentando intervir.

No último segundo, consegui ver o guardião do amor empurrar o cajado para a minha mão, mas eu já havia pego o controle de volta, e pior... No impulso, acabei por selar os nossos lábios ao mesmo tempo que sentia sua outra mão liberando o arco da minha, fazendo com que toda aquela força se esvaisse de mim como um copo derramando um líquido, pouco a pouco, até ficar vazio.

Se aquilo estivesse certo, então era verdade Cupid e eu... Havíamos nos beijado.

E no mesmo instante meus olhos se abriram de novo, estava de volta ao quarto da casa de North.

O círculo de areia ainda nos envolvia, os yetis ainda brigavam com a sombra de Pitch. E não era essa a pergunta que deveria estar passando pelos meus pensamentos, mas era tudo o que a minha mente conseguia refletir: será que eles tinham visto tudo aquilo?

Queria que a resposta fosse não, porém não iria ser agora que ela seria respondida.

Tratei de me levantar do chão.

— Você não vai machucar esse rato. – A sombra gargalhou com o que eu disse.

— Garoto tolo! – Continuou a gargalhar. – Nada disso foi por conta de um simples rato, se meu mestre quisesse já teria se livrado de todos eles! Mas agora não importa mais, meu trabalho aqui está feito, a semente já foi plantada, agora é apenas que ela desperte. Até logo, guardiões! – E sumiu pela primeira sombra que passou, nos deixando no quarto com um grande ponto de interrogação instalado em nossas mentes.