A Origem dos Guardiões – O Guardião Primordial

CAPITULO XIV – COMPARTILHANDO SONHOS... (PARTE I)


Até ali estava dando tudo certo, apesar da correria em conseguir pegar o rato fujão, o plano de Cupid parecia estar funcionando. A animação era grande, finalmente ter algumas respostas concretas depois de tantas hipóteses.

Naquele momento estávamos reunidos na casa de North, parecia ser o lugar mais seguro, não colocando pra baixo as fadinhas, ou aqueles ovos guerreiros, e muito menos os dragões de Cupid, mas ter os yetis nos protegendo parecia mais sensato, palavras de North, porém tinha de concordar, ficar naquela casa de o guardião do amor tinha arranjado para nós não parecia a melhor ideia, até porque poderia ser outra coisa a aparecer ao invés do rato, talvez tenhamos tido um pouco de sorte.

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A sala que North tinha arranjado para nós tinha sido esvaziada, sendo deixado no chão apenas alguns colchonetes para que pudéssemos deitar em um círculo, no meio do mesmo tinha um pequeno colchonete onde Tooth havia deixado o rato sonolento enquanto Sandman dava mais uma dose de sua areia para mantê-lo dormindo, quando ele finalizou virou-se para nós assentindo, já podíamos ficar nas nossas posições. North chamou os yetis e alguns duendes para ficarem de guarda caso alguma coisa desse errado, um dos grandões entrou com uma ampulheta nas mãos, parecia ser feito toda de vidro, exceto que seu suporte estava tingido na cor preta e a areia era como a de Sandy.

— Muito bem só para recapitular tudo. – Cupid começou a falar assim que entrou na sala. – Sandman vai colocar todos nós para dormir e conectar os nossos sonhos para que nos encontremos num único lugar, depois é só encontramos o rato. Temos o tempo da areia parar de cair na ampulheta, o que nos dá mais ou menos uma hora. – Todos assentimos. – Mas estejam cientes de que tudo é um sonho, tentem não se perder ou desviar, estamos todos juntos. – Assentimos novamente, Cupid estava finalmente ser ajudado, o que me alegrava muito. – Vamos lá então.

Nos posicionamos cada um em um colchonete, exceto por Sandman, do meu lado direito consegui enxergar Cupid ao seu lado estava Toothiana, e do meu lado esquerdo estava Bunnymund seguido de North, estávamos prontos. Voltei a mirar o teto enquanto conseguia observar os movimentos sinuosos de Sandman e sua areia que formava o círculo em cima de nós.

Porém um movimento a direita chamou atenção, na minha diagonal atrás de uma pilastra tinha alguma coisa se mexendo. Levantei um pouco o pescoço a fim de ver melhor o que era, a iluminação da sala era ótima, naquele canto em especial a luz atravessava o suficiente para ver a silhueta de um homem, mas não era qualquer homem.

— Pessoal. – Tentei chamar os outros, porém quando procurei por seus olhares já estavam adormecendo seus olhos pesando, a areia de Sandy começava a cair em cima de nós, o sono começava a dominar. – Sandy, – Tentei pronunciar, mas minha voz saia baixa. – espera, tem… – Minhas pálpebras ficaram mais pesadas. – Tem… – Não conseguia pronunciar.

— Pode dormir Jack. – Consegui ouvir a sombra falar. – E tenha bons sonhos. – Ouvi sua risada baixa, meu pescoço abaixou novamente, minha respiração se acalmou e minha cabeça começou a voar, a última coisa que vi antes dos meus olhos se fecharem completamente foi Sandman caindo no chão, parte da areia dourada do círculo começava a tomar outra cor, ficando preta, por fim vi os yetis desesperados indo atacar a sombra de Pitch, então fui levado embora.

❄❅❆❆❅❄

— Jack? – Alguém me chamava. – Jack? – Era uma voz feminina, quem seria? Não parecia nem um pouco ser a voz da… A voz de quem? – Jack, abra os olhos, você está bem? – Fiz o que foi pedido e abri os olhos.

O lugar em que estava era escuro, porém as janelas permitiam que a claridade entrasse iluminando o cômodo. Eu estava sentado em uma cadeira, a mesa a minha frente com mais algumas cadeiras ao redor, a minha direita estavam alguns armários, uma pia, fogão, geladeira, devia estar na cozinha.

— Jack? – Quem quer que estivesse me chamando vinha do outro lado e a vi assim que virei a cabeça para esquerda. Era uma garotinha, parecida comigo, tinha os olhos e os cabelos longos castanhos e usava um vestido marrom com um par de botas para combinar, só então percebi o quão frio estava. – Tudo bem? – Sua expressão parecia confusa, encostei as mãos em sua bochecha, sorrindo.

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— Porque não estaria. – Mas eu sabia quem ela era, minha irmã, Jane.

— Você parecia bem longe agora.

— Desculpe, deu um pouco de dor de cabeça… – Ela assentiu. – E então o que você estava falando?

— Disse que nós podiamos aproveitar enquanto a cidade ainda não está tão quente, sabe? Antes que o gelo comece a derreter.

— E você quer aproveitar como? – Perguntei ainda sorrindo.

— Hora essa, Jack! Patinando é claro! O que deu em você agora? Está tão avoado.

— Bom, temos que confirmar com a mamãe se podemos.

— Ela vai deixar se você vier comigo. – Ela nem deixou que eu pudesse responder, entusiasmada como sempre simplesmente saiu, provavelmente indo atrás de nossa mãe. O que foi bom, pois me deu um tempo para pensar sobre o que estava acontecendo com a minha cabeça e porque ela doía tanto.

Ouvi uma voz, bem baixa, suave, como se fosse o vento sussurrando a minha orelha, a princípio não entendi muito bem o que estava falando, mas aos poucos fui entendendo, era uma frase bem simples: “Não se perca, Jack. Tenha foco!”, porém para que eu teria foco se não estava nem um pouco perdido? Pelo contrário sabia muito bem onde estava, era minha casa em Burgess, mas os sussurros continuavam, mas creio que não passem disso, sussurros do vento.

Não demorou muito logo veio minha irmã com dois pares de patins de gelo velhos e desgastados, estava bem animada, entregou o maior dos pares em meus braços e disse:

— A mamãe deixou a gente patinar um pouco.

— Mas só se for rápido, – Nossa mãe apareceu atrás da parede que levava a sala. Por algum motivo senti lágrimas se formando em meus olhos ao olhar para as duas ali. – em breve vai escurecer e vai ficar mais frio do que já está. Entenderam? – Nós dois assentimos, soltei os patins no chão e tratei de limpar o rosto, “Por quê essa vontade repentina de chorar, Jack?” – Não quero vocês dois até tarde por aí hein! – Jane e eu nos entreolhamos, e sorrimos em resposta, peguei do chão os patins enquanto Jane me puxava para fora de casa, porém antes que pudéssemos sair, parei para dar uma boa olhada em nossa mãe. Assim como Jane ela tinha os cabelos lisos longos marrons e compartilhávamos muitas características físicas como o mesmo nariz redondo e os mesmos olhos. Aproveitei para dar um abraço bem forte nela antes de voltar a ser puxado por Jane casa a fora. – Divirtam-se e tomem cuidado! – Mamãe tinha dito ao chegar à porta da casa se despedindo de nós.

— Pode deixar. – Respondi sorrindo

Nós dois seguimos para fora da pequena cidade que morávamos, como sempre tinha saído sem um calçado nos pés, gostava de sentir o frio percorrendo o meu corpo. Iriamos ao nosso lugar de sempre, havia uma pequena lagoa que no inverno sempre congelava e todas as crianças da cidade conseguiam tirar um tempo para patinar ali, o que não era diferente para nós. Felizmente não era muito longe, pouco tempo de caminhada.

Ao chegarmos lá, Jane tratou de vestir seus patins e tratei de vestir os meus também, o sol naquele dia irradiava um pouco mais forte do que nos dias anteriores, mas ainda tínhamos alguns dias até o fim do inverno, a lagoa não ia descongelar tão cedo. Minha irmã logo terminou de vestir os patins e já se direcionou para a lagoa, começando sua diversão e tinha de admitir, ela patinava muito melhor do que eu, isso porquê quem havia ensinado ela tinha sido eu mesmo, hoje ela já dominava como se tivesse nascido para isso.

Logo entrei na lagoa e comecei a acompanhá-la também, o gelo nem parecia tão desgastado assim, Jane conseguia fazer suas acrobacias muito tranquilamente e eu só conseguia admirar enquanto dava a volta pela lagoa. Para descontrair dei um jeito de esbarrar nela propositalmente, o que a fez cair e deslizar pelo gelo.

— Jack?!

— Desculpa. – Falei gargalhando enquanto me afastava dela. – Foi sem querer. – Ela bufou enquanto tentava se por de pé, vendo sua dificuldade voltei a me aproximar para ajudá-la a se erguer. – Vamos. – Estiquei a mão para que ela pudesse pegar e assim ela o fez, logo já estava de pé novamente, e como vingança ela me segurou e puxou em sua direção rapidamente, fazendo com que eu caísse no chão e ela apenas se desequilibrasse. – Cuidado Jane. – A alertei assim que consegui levantar novamente.

— Foi você quem começou, agora aguenta! – Ela respondeu sorrindo voltando as suas acrobacias.

Assim tínhamos passado grande parte dos nossos dias, algumas vezes mais crianças se juntavam a nós para brincar e patinar, e conforme a noite chegava todos voltávamos para nossas devidas casas, dependendo de como estava o dia acendíamos uma fogueira e compartilhávamos histórias, aventuras do que acontecia fora dali, como o mundo deveria bem maior do que o que apenas tínhamos contato. Era bom poder ver todos aqueles sorrisos, principalmente o de Jane, e recordar disso partiu meu coração, mas por quê? Se aquela era a nossa vida, se era daquele jeito que vivíamos desde sempre? Tudo parecia tão perfeito... Talvez, fosse demais? Perfeito demais?

Crack.

Ouvi o barulho de algo se quebrando, o que poderia ser, não seria o gelo, seria?

— Jack! – Ouvi o grito de Jane e desesperado olhei em volta para procurá-la, quando a encontrei estava no meio da lagoa congelado, alguma coisa tinha acontecido. Aproximei-me devagar para o que era, um galho de árvore muito suspeito tinha caído ao lado de minha irmã e onde ela pisava o gelo estava se partindo, parei no mesmo instante. – To com medo. – Comecei a tirar os patins, enquanto procurava por alguma solução.

— Calma, vai ficar tudo bem. – Até que percebi o gelo embaixo dos meus pés começou a trincar também. O único jeito seria caminhar para o outro lado impedindo que as rachaduras crescessem mais e o gelo se quebrasse.

— Não, não vai! – Ela estava assustada e se continuasse daquele jeito as coisas poderiam mesmo acabar mal, por isso precisava distraí-la.

— Ah, qual é, eu já te enganei alguma vez? – Perguntei sorrindo, trocando olhares com ela e as rachaduras.

— Sim! Você sempre faz brincadeiras! – Tive uma ideia.

— Tudo bem, dessa vez vamos brincar de amarelinha, como sempre fazemos. – Lentamente comecei a caminhar para o lado, longe das rachaduras, mas sem me distanciar de Jane, "Vai dar tudo certo, vai sim". Em algum momento consegui fazê-la rir enquanto contava os passos, no ponto onde estava não estava tão frágil. – Agora sua vez. – Tinha dito à ela, e ela começou a patinar lentamente, peguei o galho que estava no chão, preparado para puxá-la na minha direção e afastá-la daquela parte.

— Jack! – Mas não vi aquilo acontecer, quando consegui puxá-la para longe do gelo quebrado, também fui puxado para o seu lado, o gelo se partiu nos meus pés e afundei na água. A voz de Jane foi a última coisa que tinha ouvido, "Pelo menos ela está a salvo".

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A água estava fria, tentei lutar para voltar a superfície, mas foi em vão, o gelo que eu tampouco temia me abraçou, fazendo de pedra, deixando que chegasse até o fundo gelado. Minha consciência foi se perdendo aos poucos, já não conseguia mais respirar, os olhos foram fechando lentamente, até ser inundado pela escuridão total.

Jack.

Alguém cantarolou meu nome na escuridão e então percebi porquê as coisas pareciam tão perfeitas. É porque não eram reais, nada daquilo era real. O nome Jane, que por algum tempo me foi familiar, hoje era apenas mais uma palavra sem significado.

Jack, não deixe eles brincarem com você assim.

A voz ainda cantarolava. Hoje eu era um guardião, um guardião com memórias falsas e sem fazer a mínima ideia de quem fui no passado, se tinha realmente uma família, se era só mais uma criança, quem eu era?

Jack, abra os olhos e me escute.

Pareceu familiar, abri os olhos dessa vez para encontrar seu dono, mas encontrei apenas a Lua me iluminando. Estava tendo esse pesadelo outra vez, mas por quê? O que estava fazendo antes para chegar aqui novamente?

— Jack? – Dessa vez ninguém cantarolou nada, estava apenas me chamando, e eu sabia o que viria em seguir, então só podia virar e deixar acontecer, logo iria acordar novamente. Virei para encará-lo. Era apenas um borrão com uma silhueta de um garoto que por algum motivo eu reconhecia, mas que não conseguia descrever, era um sentimento estranho, uma impotência tão grande que chegou a me irritar.

— Quem é você?! – Consegui perguntar.

— Jack. – De repente a pessoa pareceu mais alegre, confortável, como se estivesse... Feliz? – Finalmente conseguimos conversar, tenho tentado falar com você desde que entrou na cidade do Halloween, mas..

— Do que está falando, quem é você? – Ele evitar minhas perguntas apenas me irritou mais.

— Pensei que nesse momento já imaginasse quem eu fosse, Frost.

— Não, não sei.

— Tenho certeza que sabe, por quê se nega isso? – Esse cara realmente não me conhece.

— Olha, acho que você realmente não ta entendendo, não sei mesmo quem você é, não é a toa que estou perguntando. – O ouvi bufar, mas em nenhum momento seu borrão se tornou nitido.

— Sou eu, Frost. Nightlight. – Ele gargalhou.

— Nightlight, você é realmente o Nightlight? – Mesmo que não conseguisse ver seu rosto consegui vê-lo afirmar com a cabeça. Era ele de verdade? – Se você é de verdade ele, precisamos da sua ajuda, tem muita coisa acontecendo, muita pergunta sem resposta e acreditamos que somente você pode nos ajudar.

— Mas não posso. Pelo menos não ainda, Frost.

— Por quê não?!

— Há certas coisas que não devem ser reveladas ainda, tudo ao seu tempo, Jack Frost. O que vocês devem realmente saber agora é que não devem pedir ajuda à Lua, agora não é a melhor hora para fazer isso.

— Por quê?! – Mas ele não me respondeu. – E o que nós deveríamos fazer então, Nightlight?! Estamos completamente sem direção, não sabemos o que devemos fazer.

— Ah, Jack... Devem fazer o que foram criados para fazer, proteger as crianças deve continuar a ser sua prioridade. Não sei o que o novo dono da sombra de Pitch quer, mas sei que ele está fazendo muito mais do que apenas assustar crianças, vocês devem pará-lo a qualquer custo.

— Pará-lo como?

— Você tem que aprender a controlar sua nova magia, Frost. Aceitar o trabalho de ser guardião é fácil, mas exercer a função é complicado, esse é o seu teste, o arco de Cupid, o seu toque tem um poder oposto ao fogo e deve aprender a controlá-lo, enquanto lutar contra o seu cerne, não conseguirão seguir em frente.

— Mas Cupid...

— Tente não esconder as coisas dele... A segunda profecia é sobre nós quatro.

— Nós quatro? – O ambiente então pareceu mudar, lápides foram aparecendo, duas árvores mortas que os galhos pareciam se abraçar e a lua que brilhava cheia em cima delas. – Que quatro?

— Não temos muito mais tempo. – Parecia um vídeo sendo rebobinado, logo a placa com a palavra "Hollow" apareceu junto da estrada. – Jack, escute! – Voltei minha atenção a ele enquanto o cenário mudava novamente. – Só consegui falar com você dessa vez porque a areia mágica do seu amigo manteve a influência dele longe de sua mente por pouco tempo, mas depois disso creio que você não voltará para esse pesadelo tão cedo. – Logo voltamos para a cena onde a sombra de Pitch era roubada, tudo rebobinado, Pitch voltando a ser esmagado na parede, implorando por misericórdia. – Nenhum de vocês vai, portanto preste muita atenção aos pesadelos. Sigam com o planejado. – Minha cabeça começou a doer. – Seu amigo está chegando, até logo Jack Frost... – Nightlight começou a andar para trás, eu não consegui dizer mais nada, ele continuou até desaparecer junto com todo o cenário que estava vendo, engolido pela escuridão novamente.

Minha cabeça doía e agora estava sozinho de novo, sem saber o que fazer... Não. Mas eu sabia, nós, os guardiões, tínhamos um plano. No qual iríamos entrar nos sonhos de um... O que era mesmo? Era um bicho. Um rato! Isso. Íamos entrar nos sonhos de um rato, mas quando estávamos para fazê-lo o que aconteceu? A sombra de Pitch apareceu, foi isso que houve, agora estava explicado o porquê de reviver tudo aquilo, mas será que o que tinha acontecido foi real? Quer dizer, eu tinha realmente conversado com o verdadeiro Nightlight?

Uma porta se fez na minha frente, foi como um desenho feito de areia, um retângulo desenhado, dois quadrados no meio e depois um pequeno círculo do lado esquerdo. Ela abriu sozinha e dentro veio um ser gorducho todo amarelado flutuando, Sandman.

— Sandy! – Consegui correr para abraçá-lo. – O que aconteceu, não era para todos estarmos juntos? – Em sua cabeça se formou a silhueta de Pitch e imaginei que o problema fosse esse. – Então temos de encontrar os outros e acordar logo.

Sandy assentiu afastando-se um pouco de mim, ele começou a mexer suas mãos, de algum lugar sua areia dos sonhos veio e do mesmo jeito que a porta anterior se fez, uma nova apareceu, o guardião gesticulou para que continuássemos por ali, assim o fizemos juntos, segurei firmemente ao cajado e caminhei em direção a porta. Dessa vez não podia desviar do nosso objetivo, o jeito era manter a mente focado no que deveria fazer a partir dali, talvez os outros não tivessem sido separado como eu e Sandman fomos, talvez.

Atravessei a porta de areia devagar com Sandman logo atrás de mim.

❄❅❆❆❅❄

Nada muito complicado, assim que a atravessamos o ambiente mudou, estávamos em um corredor com pouca iluminação.

Parei um instante para ter certeza que Sandman estava na minha cola e observei enquanto a porta por qual tínhamos acabado de atravessar desaparecia sem deixar um único rastro de sua existência.

Continuamos nosso caminho pelo corredor que já era bem familiar, se estivesse certo logo ao fim dele estaríamos no salão principal onde estaria o globo e foi bem assim que aconteceu, nós estávamos na casa de North, então isso significava que era o sonho dele? Estava para perguntar a Sandy onde o dono da casa estaria, mas minha pergunta foi respondida assim que chegamos a beirada do andar.

Logo abaixo estava o globo da casa de North, por algum motivo a quantidade de luzes que brilhavam dele eram menores e conforme o globo girava era possível perceber vários "furos", onde uma certa quantidade de luzes havia desaparecido, e do outro lado do salão consegui ver o rosto de North, e ele parecia estar conversando com alguém.

— Vamos lá, Sandy. – Falei enquanto pulava em sua direção, aterrissando primeiro no globo e depois atrás dele enquanto Sandman vinha flutuando pacientemente, quando virei para chamar a atenção de North, o ambiente mudou de novo, mas não completamente, os yetis e os duendes resolveram aparecer. Estavam espalhados por todos os andares, porém bem recuados, como se estivessem com medo de alguma coisa.

— Jack, Sandy, ainda bem. – Não foi necessário chamá-lo, North nos viu antes que fosse possível, só então percebi com quem ele estava falando, era um dos yetis. – Venham ver.

— Tudo bem por aqui North? – Resolvi perguntar, será que ele sabia que estava sonhando?

— Não tenho certeza, venham dar uma olhada nisso. – Novamente ele nos chamou para nos aproximarmos, desconfiado ainda sim fiz o que tinha pedido e aproximei-me devagar. O yeti com quem ele conversava abriu espaço para que tanto eu quanto Sandy pudéssemos ver o que acontecia. – Venham.

Assim que nos aproximamos o suficiente foi possível ver: era uma esfera de vidro um pouco menor que eu e maior do que Sandy. Em seu interior havia alguma coisa que se mexia, parecia estar coberta por uma capa preta, resolvi perguntar a North.

— O que é isso?

— Gostaria de saber também Jack. Foi isso que nós capturamos antes que escapasse na Escócia.

— Nós?

— Isso, Jack, nós, esqueceu? – Era a voz de Bunnymund, fui procurá-lo, mas não foi necessário, ele apareceu logo em seguida atrás de mim e Sandy. – Tudo bem com você? Parece estar meio disperso... – Bastava saber agora se tanto ele quanto North eram os verdadeiros ou apenas partes do sonho.

— Sim, estou bem... Só um pouco cansado. – Olhei para Sandy esperando que talvez ele soubesse responder a essa pergunta, mas ele estava mais intrigado com a criatura dentro da esfera.

— Não é para pouco, né? – Bunny sorriu dando um tapa nas minhas costas. – Os últimos dias tem sido bem cansativos mesmo. E então North, o que você acha?

— Sobre o que Bunny?

— Será que isso tem a ver com o sumiço das crianças? – A retórica de Bunny foi o suficiente para chamar a minha atenção e a de Sandy também.

Sumiço das crianças? – Exaltei o suficiente para que Bunny e North olhassem para mim desconfiados. – Quero dizer, mais crianças desapareceram?

— Sim, mais uma da lista. – North passou a mão em cima do braço tatuado com as listas das crianças boas e das malcriadas, “Essa lista”.

Continuamos a observar a redoma, a criatura dentro se levantou, parecia um fantasma todo encapuzado, sem pernas e com braços largos e de dedos finos como se fossem galhos de árvore, o único som que ela emitia era de sua respiração pesada, não parecia ter nariz, no lugar onde deveriam haver olhos estavam dois buracos e a boca estava aberta. Ela emitiu outro som, parecia que estava engasgando, ou estaria… Gargalhando? Ela se aproximou do vidro flutuando, em seguida começou a bater nos vidro enquanto parecia gritar.

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— O que é você? – Ouvi North perguntar, parecia tão intrigado quanto o resto de nós, procurei me aproximar, mas ao primeiro passo notei uma coisa de diferente.

Rachaduras começaram a se fazer na redoma onde a criatura batia com seus braços esqueléticos, não fui o único a notar, consegui ver Sandman se aproximar, mas quando fui procurar por Bunnymund e os yetis não os encontrei, estávamos apenas nós: North, Sandy e eu. Seria correto ter certeza que aquele era o sonho de North?

Mas as surpresas não pararam por aí, em algum momento mãos tão brancas quanto a neve surgiram dos dois lados do grande Globo, ninguém pareceu ter prestado atenção até o momento em que o globo começou a se partir. As mãos estavam segurando dois pontos da grande esfera azul, a puxando em direções opostas, causando as rachaduras, Sandy, assim como eu, começou a andar para trás, North era o único paralisado no mesmo lugar enquanto a criatura dentro da redoma conseguia quebrar o vidro, sua boca de repente se curvou em um sorriso macabro quando o primeiro pedaço caiu no chão.

O globo foi quebrado ao meio e suas duas partes foram jogadas para direções opostas, enquanto a fumaça dissipava uma figura em seu meio se tornou visível. Era alto, esguio e esquelético, mas diferente de Jack Skellington, este tinha pele, usava um terno e seu rosto não foi possível identificar, as suas mãos estavam em um tamanho normal, porém seus braços eram longos.

Mais quatro formas apareceram atrás da nova figura, eram muito parecidos com... tentáculos. “Mas o que é que está acontecendo aqui?!

Procurei por Sandy que estava na mesma linha que eu, ele apontava para North que tinha caído de bunda no chão, ainda encarando tudo o que estava acontecendo. Sandy gesticulava alguma coisa que eu só consegui interpretar como dar uma chacoalhada no outro guardião. Posso estar enganado, mas ele queria que eu acordasse North de seu espanto, apenas assenti e corri para o guardião, se não fosse isso o que Sandy queria que fizesse, pelo menos seria melhor do que ficar parado observando tudo aquilo.

— North, acorde! – Gritei ao tentar levantá-lo.

— Jack… V-você está vendo i-isso? – Gaguejava. Voltei meu olhar para a redoma, a criatura já tinha terminado de fazer um buraco na redoma, podia sair a qualquer momento, mas ao invés disso estava parada, nos observando. O mesmo acontecia com a outra forma, faíscam saiam de vários lugares, principalmente do local onde o globo estava antes, só que ninguém parecia interessado em se mexer, estavam esperando alguma coisa?

— North, você tem que me ouvir. – Segurei os ombros do guardião e os apertei, forçando-o a olhar pra mim. – Nada disso, é real. É tudo um sonho.

— O-o que?! Do que está falando Jack? Veja o que está acontecendo na sua frente. – Voltei a observá-los, a criatura da redoma continuava com seu sorriso, mas nenhum movimento ainda.

— Sei o que parece, mas você precisa se lembrar. – North teimava em olhar para os outros dois e todo momento em que fazia isso, tratava de chacoalhá-lo. – Estamos em uma missão, lembre-se! – Nunca pensei que o veria nesse estado, já vi o que a descrença das crianças pode fazer aos guardiões, mas isso é completamente diferente. O olhar de North mostrava um misto de medo e terror tão grande, eu não ia conseguir acordá-lo assim.

Tentei fazer com que ele levantasse para que ao menos ganhássemos distância, Sandman veio para dar apoio, porém foi em vão. A situação começou a piorar quando por fim a criatura da redoma se movimentou, tive certeza ao ouvir mais cacos de vidro caindo no chão, voltei para olhá-la, seus braços estavam para fora do buraco que tinha feito, parecia segurar delicadamente enquanto se empurrava para frente, sem pressa nenhuma.

North engatinhou um pouco para trás e a cada centímetro que ele se movimentava, era um movimento a mais na criatura, pouco a pouco seus movimentos ficaram mais uniformes e ela começou a tremular, seu sorriso pareceu aumentar.

Foi só então que percebi que não estava com o meu cajado em mãos, olhei ao redor para procurá-lo e o achei há alguns metros de nós, mas tinha a sensação de que sair de onde estava naquele momento não seria muito bom. Sandy se posicionou a frente de nós, o que não pareceu intimidar ninguém, levando em conta que ele parece um bolinho de areia de flutuante, porém era o suficiente para que pudesse sentir o que fazer.

Estiquei o braço na direção do cajado e concentrei. Foi como uma imã atraindo o metal, um imã muito potente inclusive, em segundos o cajado estava de volta na minha mão, virei para levantar a encarar a criatura sombria.

— Isso – Fiquei em posição, como Sandy. – acaba – Manejei o cajado em minhas mãos, passando pela lateral do meu próprio corpo. – agora! – E finquei, literalmente, o cajado no chão, uma força tão grande que o lugar onde estava se rachou, seguido de uma onda congelante que foi capaz de congelar a criatura.

Antes que pudesse respirar tranquilamente, ouvimos uma risada, era diferente de qualquer outra que já tinha ouvido.

— Finalmente! – Ouvimos seu dono falar, não se parecia nada com a voz de Pitch ou de qualquer outro que conhecesse. – Encontrei você meu pequeno pontinho de luz. – Gargalhou novamente, observei ao redor, mas só havia sobrado o cara com os quatro tentáculos nas costas. – E dessa vez você não vai escapar. – Um deles parou de dançar e de um segundo para o outro se esticou vindo em minha direção, porém não chegou a me tocar, pois Sandy se colocou à frente, fazendo com o que o tentáculo se transformasse em areia, assim como seu dono que se desfez.

Soltei a respiração sem nem ter percebido que estava segurando, Sandman virou o corpo em minha direção dando um pequeno sorriso de lado, e não demorou muito para ouvirmos a voz de North.

— O que está acontecendo aqui? – Nós dois nos viramos para encontrá-lo com o olhar confuso, parecia ter saído do estado de choque de antes. Me aproximei oferecendo a mão para que ele conseguisse se por de pé.

— Do que exatamente você se lembra?

— Não sei exatamente, Jack… Onde é que estamos? Onde estão os outros?

— Nós estamos dentro de um sonho, se lembra disso? Lembra do nosso plano de invadir os sonhos de um rato para conseguir conversar com ele? – Os olhos de North pareceram ter crescido mais, foi como um estalo.

— É verdade! – Porém ele começou a olhar em volta. – E o que deu errado? Onde estão os outros?

— A sombra de Pitch apareceu antes que pudéssemos chegar ao nosso destino, se estou certo dessa vez, os outros devem estar vivendo pesadelos, assim como você estava vivendo agora.

— Até você?

— Sim, mas… – Parei por um segundo. Sandy não sabia o que tinha acontecido nos meus sonhos, não foi ele quem me despertou, foi Nightlight, porém eles ainda não precisavam saber disso, talvez quando todos estiverem acordados seria melhor. – Sandy, me despertou. – Voltei o olhar a Sandman que apenas retribuiu com um sorriso e tentando mostrar seus “músculos”.

— Precisamos ir atrás dos outros então. Se a sombra de Pitch ainda está e estamos todos dormindo, podemos estar em real perigo. – Assenti, ele estava certo, tínhamos logo era que acordar.

— Sandy, você não consegue reunir todos nós e nos acordar? – Ele me deu aquele olhar, aquele olhar que todo mundo tem tido o prazer de me dar, o olhar de “é sério a sua pergunta?” Então ele apenas apontou para a sua cabeça e a forma de Pitch apareceu novamente. Sorri de nervoso e me afastei um pouco.

— A sombra de Pitch deve estar interrompendo na magia de sua areia de alguma maneira? – Sandy assentiu. – Então não temos tempo a perder, vamos encontrar os outros e acabar com isso de uma vez. – Ele assentiu novamente.

O guardião se aproximou de North e passou a mão por dentro do casaco vermelho retirando dali um de seus globos de neve, ele o balançou e assoprou, em seguida Sandy simplesmente jogou o globo de neve para frente fazendo um portal se abrir, então gesticulou para que passássemos por ali. Para o próximo guardião.

— Vamos lá então.

❄❅❆❆❅❄

Assim que atravessamos o portal nos deparamos em um local nem um pouco familiar, era uma imensa escuridão e não havia nenhuma direção para andar, seja para frente ou para trás tudo o que se via era o nada.

— E agora? – Questionei enquanto North e Sandman analisavam com cautela.

— Como Sandy não parece conseguir manipular muito os sonhos dessa vez, vamos andar um pouco, de repente alguma coisa mude. Ainda precisamos descobrir de quem esse sonho é.

— Tá, mas vamos andar para onde? – North observou mais um pouco, olhando em todas as direções, inclusive para os nossos próprios pés.

— Viemos de lá. – Apontou para trás. – Então vamos seguir na direção oposta, talvez alguma hora paremos em algum lugar.

— Sério?

— É a melhor opção que temos agora Jack. – Arqueou os ombros.

— Para o alto e avante então.

— Este é o espírito. – O barbudo sorriu passando por mim depois de dar alguns tapas, bem fortes, nas minhas costas, Sandy e eu o seguimos já que não tínhamos muito o que fazer.

Não havia nada sólido e nós nem sabíamos se estávamos seguindo reto ou se tínhamos mudado a direção em algum momento, o vazio e o silêncio estavam começando a me deixar louco, isso e a falta de um ser alado metido a arrogante que está desaparecido por aí, vagando em pesadelos. Será que ele sabia que estava dormindo? Será que ele estava bem?

— Esperem. – North parou bruscamente, Sandy e eu seguimos seu comando, estávamos apenas há alguns centímetros de distância quando ele freou, sua cabeça virava de um lado para o outro freneticamente, como se procurasse ouvir alguma coisa. – Tem alguma coisa errada aqui. – Eu e Sandy nos entreolhamos confuso, até que North se virou para nós finalmente e seu olhar pareceu assustado.

— O que foi?

— Veja. – Apontou com o queixo para atrás de mim e quando me virei para olhar, consegui entender o porquê de seu espanto. Nós tínhamos caminhado tanto, mas em nenhum momento passamos por aqueles espelhos, sim, de um momento para o outro vários espelhos apareceram, estavam onde estávamos pisando, um em cada lado e até por cima, formando um extenso corredor, só que não parou por aí. Quando voltei para encarar North novamente, o corredor de espelhos ainda continuava mais a sua frente, os dois seguiram meu olhar e retribuíram. Nada daquilo estava ali antes. – Devemos estar chegando em algum lugar. Vamos continuar.

Tanto eu quanto Sandy assentimos e continuamos o caminho pelo corredor. Percebi que aqueles espelhos tinham algumas peculiaridades, não era possível ver os nossos reflexos, em nenhum deles, o que não significava que eles não estavam mostrando nenhuma imagem, pelo contrário, conforme passávamos por mais deles mais coisas eles nos mostravam, pareciam pequenos filmes passando em cada um. Nenhum repetido, todos diferentes e todos relacionados aos…

— Guardiões.

— Como é Jack? – North e Sandy me observaram confusos.

— Vocês não estão vendo essas imagens passando pelos espelhos?

— Imagens? Que… – North se voltou para observar os espelhos, dessa vez, provavelmente, prestando atenção ao que se passava. Algumas eu consegui reconhecer, eram de alguns momentos em que eu estava com os guardiões, alguns dos momentos quando Pitch os ameaçou da última vez e outros posteriores a quando ele voltou para o seu lar, em outros nem estava com eles ainda, eram coisas muito aleatórias. – Somos nós…

— Todas são sobre nós. – Procurei analisá-las melhor e quando ficamos em total silêncio, sussurros começaram a ecoar pelo corredor, foi ao chegar mais perto dos espelhos que entendi que os sussurros vinham daquelas imagens, dos eventos que elas estavam mostrando. – De quem é esse sonho? – Por algum motivo North começou a passar a mão em sua barriga.

— Tenho a sensação estamos prestes a descobrir. – E continuou andando, seguindo para a direção em que tínhamos ido antes, porém antes de dar mais algum passo parei em frente a um espelho.

O que acontecia nele me chamou a atenção, era Cupid. Ele parecia um pouco irritado, conseguia ver sua boca se mexer, parecia estar discutindo com alguém, porém não conseguia ver quem era essa pessoa, cheguei mais perto para ouvir alguma coisa, mas só consegui entender: "Desculpa, mas não posso te ajudar, vai ter que ganhar o coração dele por conta própria." E então ele se esquivou por um lado e saiu, a visão no espelho ficou embaçada, como se alguém fosse começar a chorar.

— Jack! – North chamava, tirei a atenção do espelho e voltei para Sandy e ele que não tinham se distanciado tanto ainda. – Tudo bem? – Apenas assenti e seguimos o caminho, mas não estava tudo tão bem assim, só conseguia pensar com quem Cupid estava conversando, seria o dono desse sonho? E o que ele queria dizer com aquilo?

Conforme continuávamos pelo corredor, os sussurros foram diminuindo, dando espaço para o silêncio infinito. As imagens nos espelho se tornaram menos frequentes também, até não ter mais nada, porém os espelhos não mostravam nossos reflexos também, agora pareciam apenas grandes molduras com um fundo preto.

O silêncio foi enfim quebrado com um grito. Paramos no mesmo momento, nos entreolhamos e entendemos que ainda deveríamos ficar em silêncio para ver o que mais conseguiríamos ouvir.

— Pare! – Foi o que ouvimos em uma voz feminina. Era claro quem era, não foi preciso seguir nenhuma outra ordem, no segundo seguinte estávamos correndo novamente por aquele corredor, aparentemente, sem fim.

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Finalmente depois de tanto tempo naquele lugar sem fim, tínhamos chego a algum lugar.

Poucos passos de onde nós estávamos dessa vez havia uma outra pessoa, não era possível visualizar seu rosto ainda, uma vez que tinham duas enormes formas grudadas em seu corpo, parecia estar de costas para nós.

Ouvimos uma gargalhada ecoar, a pessoa arqueou um pouco o corpo, jogando a cabeça para trás, como se estivesse se divertindo com alguma coisa, mas o que assustou foi ver que os vidros começaram a rachar. Conseguimos ver parte de de sua nuca, parecia estar coberta por alguma coisa dourada.

North fez um movimento para nos aproximarmos em silêncio, assim fizemos e quando chegamos mais perto consegui identificar aquelas duas formas em suas costas. Eram asas. Asas enormes, diferentes das de Tooth, que eram transparentes, e ainda mais diferentes das de Cupid, que eram de dragão, essas pareciam ser de borboleta.

Sai do centro do corredor e fiquei mais na lateral absorvendo seus detalhes.

Era uma figura esguia vestida de preto com alguns detalhes dourados nas mangas e próximos de seus pés, as asas de borboleta tinha algumas pintas brancas ao redor com manchas laranjas no centro contornadas pelo preto. E quanto mais próximos ficávamos mais parecida com Toothiana ela parecia.

— Você é patética! – Até mesmo sua voz parecia com ela. – Achou realmente que ele iria te ajudar assim de bom grado?! É mais estúpida do que pensei! – Ela gritava para alguma coisa na sua frente. – Se tivesse apenas aceitado aquele acordo, estaria numa posição muito melhor que a de agora. – Percebi então a moldura em sua frente, maior do que a pessoa; era um espelho. Os outros espelho continuavam a rachar. – Fraca. Você não consegue fazer nada mesmo. – Por algum motivo ela mudou sua posição e todo pudemos enxergar com quem ela falava.

No chão, de joelhos, estava a verdadeira Toothiana com o rosto inchado e vermelho, não parava de passar a mão nos olhos, ela tentava se levantar, mas não parecia ter forças.

— Ah! – Exclamou a outra figura. – O que estão fazendo aqui? Estão encarando o lado errado do espelho! – Ela estalou os dedos e de repente não estávamos mais atrás dela e sim de Toothiana, fui o primeiro a correr para ajudá-la. Ela não parava de tremer e chorar.

Então pude levantar o olhar e dar uma boa olhada na outra figura. Também era Tooth, mas totalmente diferente, com aquelas asas de borboleta, aquela roupa e sua feição; seus olhos alaranjados não eram nem um pouco amigáveis, seus cílios continuavam enormes, porém tinham bolinhas laranja no fim, sua boca e sua pele estavam mais pálidas que o normal. Ela sorriu para mim.

— Você é tão fraca que seus amigos tiveram que vir até aqui para te salvar. Que decepção de guardiã que você é. – A outra Tooth disse enquanto a nossa quase sussurrava em desespero para que ela parasse.

— Pare de dizer essas coisas para ela.

— E quem vai me impedir? Você, Jack Frost? Ah! Vamos! Me impeça! Vai ser muito mais interessante você do que esse pássaro caído que vocês chamam de guardião.

— Tooth. – A ignorei e abaixei próximo de North e Sandy que estavam com ela também. – Você precisa ignorar ela, tudo isso é um sonho.

— Sou tão real quanto vocês no momento. Por favor, me levem daqui, sou muito mais forte do que essa ai. – Ela não tirava o sorriso do rosto. – Vamos juntos derrotar o novo mestre da sombra de Pitch. Serei muito mais útil.

— Não! Você é apenas uma imitação barata de Tooth. – Gritei de volta.

— Sou uma versão melhorada e você, como nenhum outro, sabe muito bem disso! – Apertei o meu cajado com as duas mãos, estava pronto para lutar com ela, porém North me puxou pelo casaco.

— Ela está apenas provocando Jack, não devemos cair nesse papo, temos que focar em Tooth.

— Ele nunca vai ser seu! – Ela continuava a gritar, e Tooth tremia a cada ataque seu. Juntei-me aos dois.

— Tooth, por favor, nos ouça, isso não passa de um pesadelo, nada disso é real. – Continuávamos tentando convencê-la do que não era real. – Você é mais forte do que pensa e não precisa de nenhum de nós para lhe dizer isso.

— Não escute ela, Tooth. – North complementou, Sandy apenas repousou a mão em sua nuca, preocupado.

— Que tipo de guardiã é você, não consegue nem lutar suas próprias batalhas. – E gargalhou novamente, os espelho já estavam completamente rachado.

— Por favor, chega! – Nossa Toothiana gritou tão alto quanto a outra, porém a mesma apenas gargalhou mais alto enquanto todos os espelhos ao nosso redor quebravam, fazendo com que ela desaparecesse, deixando para trás apenas o eco de sua risada. Tooth estava ofegante, porém pareceu adormecer, nos braços de North.

— Este lugar não está fazendo bem nenhum a ela. Sandy consegue abrir outro portal para nos tirar daqui, acho que ela já sofreu o suficiente neste lugar. – Assenti com a cabeça e voltei o olhar para Sandy enquanto ele tocava em um dos espelhos que não tinha sido destruido, sua areia cobriu toda a superfície em poucos segundos. – Vamos Jack.

Ajudei North a se levantar com cuidado para não machucar Toothiana, Sandy deu espaço para que ele pudesse passar com ela primeiro e enrolei um pouco antes de passar, dando uma ultima olhada no pesadelo de Toothiana, nos sonhos o tempo parece passar muito mais rápido do que na vida real, fiquei me perguntando há quanto tempo Tooth estava aguentando aqueles insultos? E se ela estava naquele estado, como estaria Bunny? E Cupid? Estariam vivenciando coisas piores?

Troquei um último olhar com Sandman que retribuiu determinado, precisávamos correr e salvar os outros antes que se destruíssem com seus próprios pesadelos. Então deixe-me ser engolido pela areia dos sonhos do guardião, sendo levado para outro lugar, esperando acabar com tudo isso de uma vez.