"Já não passou pela cabeça de vocês que eu sou apenas uma distração para o real problema? Não deviam estar tão preocupados comigo, e sim pelo seu amigo cego do amor. Mas não se preocupem, vocês estão indo pelo caminho certo, apenas saibam que grandes mudanças estão para vir."

As palavras da sombra de Pitch ecoavam em meus pensamentos, ele mencionar Cupid me deixou muito mais desconfortável do que pensar no assunto Toothiana queria conversar com ele. Pensando sobre ela, a mesma escondia algum segredo de nós, o seu incomodo após mais essa visita era eminente, Tooth não conseguia manter os olhos fixados em mim, sempre os desviava, creio que ela já imaginasse que eu havia ouvido a conversa dos dois. Mesmo que fosse um problema pessoal, se tratando da sombra de Pitch, envolvia a todos nós e ela deveria poder nos dizer o que se passava, porém eu não iria forçar a barra, além dela, tínhamos outro problema.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Cupid havia pego a oportunidade de fazer o que bem queria sem ninguém para impedi-lo e aparentemente estava em perigo, se não ele, seus dragões talvez.

— O que está pensando, Jack? — North perguntou.

— Cupid. - Respondi sem pensar, o que pareceu causar uma pequena surpresa nas pessoas ao meu redor. — A sombra de Pitch disse que não devíamos nos preocupar com ela e sim com Cupid, vocês não estão desconfiados? — Boa Jack, você não é um idiota total.

— Sim... E disse também que estamos no caminho certo, o que isso quer dizer?

— Será que quer dizer que Transilvânia é o lugar onde conseguiremos respostas? - Bunnymund continuou.

— Mas então por quê nos ajudaria? — Retruquei.

— Talvez não esteja nos ajudando, — North tentou responder. — talvez estejamos fazendo exatamente aquilo que querem que façamos.

— Quer dizer que não devemos ir a Transilvânia?

— Não, não foi isso que eu disse, Bunny, temos que ir para lá. Cupid deve estar lá agora, porém não podemos agir sem pensar, sabemos onde isso pode nos levar.

— Então o que faremos?

— Vamos ter que nos dividir mais uma vez, tenho passado muito tempo longe do Polo Norte, não posso esquecer das minhas tarefas como Papai Noel também, em breve o Natal irá chegar e preciso estar preparado. — Mesmo faltando alguns meses para o Natal. — Vou ter que deixar essa para vocês meus amigos.

— Não tem problema North. — Afirmei. — Bunnymund, Sandman e eu iremos para o palácio de Cupid, verificar se está tudo bem com os dragões, e logo seguiremos para a Transilvânia.

— Vão direto para a Transilvânia. — Tooth se impôs.

— Mas...

— Nada de "mas", Jack. Eu quero ajudar, não ficarei sentada aqui enquanto fazem todo o trabalho. Não. Irei para o Palácio de Cupid e ficarei por lá caso os dragões precisem de alguma ajuda, vocês podem seguir para a Transilvânia direto, qualquer coisas arranjaremos um jeito de manter contato.

— Tem certeza, Tooth? — Ela apenas acenou com a cabeça. — Bom, parece que nós temos um plano então. — Todos pareciam ter concordado, North foi o primeiro a sair, era bem provável que dessa vez fossemos usar os túneis de Bunny para chegar ao nosso destino mais rápido, assim Bunny e Sandman seguiram North, provavelmente se despedir, desejar boa sorte, coisas assim, já eu aproveitei para me aproximar de Toothiana, não queria ser invasivo, nem forçar nada, mas precisava ao menos conversar com ela, afinal ela era minha amiga. — Tooth...

— Quando vocês voltarem da Transilvânia eu falo sobre o que aconteceu agora, tudo bem, Jack? — Tooth me fitou, seus olhos suplicavam por confiança, pela espera, e assim eu fiz, apenas sorrindo de volta para ela. — Vamos, preciso pegar uma carona com North para ir ao palácio.

Acenei de volta, enquanto a seguia para nos juntar aos outros. North e Tooth pegaram o caminho pelos globo de neve, North iria deixá-la na casa de Cupid e depois voltaria para o Polo Norte, enquanto eu, Sandman e Bunny viajaríamos para a Romênia atrás do guardião do amor, e atrás do subordinado da Lua.

— E então? Estão prontos? — Bunny questionou maliciosamente, porém ele deve ter se esquecido que era com Sandman e comigo que estava falando, justamente eu, o guardião da diversão. — Ótimo, se preparem a descida é grande.

Apenas nos entreolhamos, sem tempo de falar mais nada, Bunnymund já havia batido o pé direito no chão, instantaneamente um buraco se abriu abaixo de nós, quando percebemos já estávamos escorregando pelos seus tuneis, fazendo várias voltas. Era divertido, lembrava muito uma montanha russa, exceto que por ali nós podíamos acabar parando do outro lado do planeta. Como Sandman não gritava, apenas se expressava com suas areias, sobrou para mim levantar os braços e curtir o momento, sem me esquecer dos meus deveres como guardião e comigo mesmo.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Em menos de dez minutos saímos do túnel, era difícil de visualizar onde estávamos, já que era noite, porém acreditávamos estar parados no meio de cidade abandonada.

Tudo o que nos faltava então era encontrar Cupid ou então o Hotel que o cartão mencionava, nossas únicas questões eram que os adultos não nos veriam, e mesmo que resolvêssemos perguntar à alguma criança, não parecia haver nenhuma alma viva no lugar onde nos encontrávamos.

— E agora? — Bunnymund perguntou e nem eu sabia responder, o cartão que o esqueleto havia nos dado, não dava muita informação sobre o lugar. — Ótimo, chegamos aqui e nem sabemos onde ir agora. — Sorri de lado, não estava preparado para esta situação, acreditava que íamos chegar literalmente em frente ao Hotel... Não foi bem como planejado.

— Nos separamos?

— Não é uma boa ideia.

— Então o que fazemos?

— Podemos dar uma olhada por ai, querendo ou não é uma cidade, se é um Hotel que estamos procurando, deve haver algum por aqui.

— Mas é uma cidade de humanos, nós estamos procurando por um hotel, possivelmente, cheio de monstros. — Olhei o nosso redor, mesmo que tivesse alguma alma viva ali, não teríamos como pedir informação se não conseguissem nos ver, isso se não se assustassem com um coelho, do tamanho de um canguru, falante.

— Procurar não machuca, vamos andar um pouco, quem sabe não encontramos algo. — Concordei.

Logo começamos a andar pela cidade, não era muito grande e era rodeada por uma floresta, estava noite já, então não conseguíamos ver muito além disso uma vez que as árvores cobriam tudo, nem mesmo com a ajuda do Man in the Moon que ainda não estava totalmente visível, só que já era possível ver um pouco da lua nascendo por entre as árvores, andamos bastante e não encontramos nenhum sinal de que pudesse ter algum monstro ali, enquanto a lua cada vez mais chegava em seu ápice.

Os sons começavam a sair da floresta, os grilos, as cigarras, o chirriado de alguma coruja, e um pouco mais longe os uivos, fora os ventos que insistiam em passar pelos galhos das árvores, era o cenário perfeito para um filme de terror, porém nenhum de nós aparentava, ou pelo menos demonstrava, estar com medo, não havia o porquê.

— Humanos? — Isso até ter ouvido aquela voz. — Por aqui? — Foi o suficiente para nos manter alertas. — Não, não tem cheiro de humanos. — Sabíamos que não era a sombra de Pitch dessa vez.

— Q-quem está ai? — Gaguejei.

— Eu é quem pergunto, quem está aqui? — Estávamos numa parte da pequena cidade cidade onde haviam algumas casas e becos, vi que Bunnymund, assim como eu, procurava o dono da voz, parecia estar bem próximo de nós, enquanto Sandy esperava calmamente por qualquer movimento, ele definitivamente seria bem mais rápido que nós dois. — E então? Não vão responder? O gato comeu a língua de vocês?

— Por quê você não aparece para nós conversarmos cara a cara? — Bunny provocou já pegando em seu bumerangue, a voz riu, seu riso era bem diferente da sombra de Pitch, definitivamente não era ele.

— Para que vocês possam me atacar sem eu ter feito nada? Não, obrigado. — Bunny e eu nos entreolhamos, poderia ser amigo ou inimigo, poderia estar nos enganando, mas nós tínhamos que tentar pelo menos, certo? Voltamos para Sandy, o mesmo acenou com a cabeça, o que quer que fossemos fazer, Sandman estaria conosco.

— Muito bem. — Bunny respondeu guardando seu bumerangue de volta no lugar, enquanto eu afrouxava o aperto em meu cajado. — Estamos dispostos a conversar, sem atacar. — A voz riu novamente, e de trás de um dos becos sua forma apareceu.

Era provavelmente da mesma altura que Bunnymund e peludo em todo corpo também, porém diferente do outro, este não parecia ser um animal, talvez metade um, metade humano. Todos os pelos em seu corpo eram arrepiados para cima onde a maioria era castanho escuro misturado com, provavelmente, outros tons de castanho, exceto em sua face, ali a cor era mais clara, tornando possível ver suas feições mesmo na escuridão, os olhos vermelhos e dois dentes pontiagudos fora da boca eram o grande destaque, fora suas garras.

A criatura sorriu ao ver as nossas expressões de surpresa.

— Imagino que não esperavam alguém como eu. — Não respondemos e ele se aproximou mais, seu nariz se mexia, como se estivesse tentando identificar algo. — Os dois não são mais humanos, o outro é um animal mesmo. — Passou a língua entre os dentes, pelo canto do olho vi Bunny remexendo em seu bumerangue. — Mas todos tem um cheiro em comum. — Chegou mais perto e aspirou mais uma vez. — Imortalidade. — E pareceu decepcionado. — Que pena, não servem para o banquete. — Banquete? Sorriu. — Se me dão licença. — Deu as costas para nós e caminhou na mesma direção que veio.

— Espere. — Pedi, ele parou no lugar, pude ver suas orelhas pontudas atentas. — Talvez você possa nos ajudar.

— Ajudar? Estão me confundindo. — Riu maliciosamente.

— Estamos procurando um hotel. — O ouvi gargalhar enquanto se virava para nós.

— Se querem um lugar para passarem a noite, creio que possam ficar em qualquer lugar na cidade. Está cheio de vagas. — Gargalhou mais uma vez.

— Não é qualquer hotel que estamos procurando. — Respondi perdendo a paciência. Bunny e Sandman apenas observavam. — Se chama Hotel Transilvânia, já ouviu falar?

— Hotel Transilvânia? — Pareceu surpreso. — O que querem naquele Hotel?

— Não é de seu interesse. — Disse ríspido.

— Que doce não é mesmo? — Zombou. Definitivamente, não gostei desse cara.

— Pode nos ajudar, ou não? — Perguntei áspero e a criatura nos analisou, ainda com um sorriso no rosto, apertei meu cajado mais forte, a vontade era de congelar aquela cara e quebrar depois.

— Sigam pela floresta atrás de vocês, — Olhamos para trás. — passem pelo meio daquelas montanhas e vocês chegaram à uma estrada de pedra, logo verão o que procuram. — Identificamos as montanhas das quais ele comentara. — Até logo, tenho certeza que nos encontraremos de novo.

— Obrigado, e você por a caso... — Fui virar para agradecê-lo e perguntar sobre nosso amigo fujão, porém ele não estava mais ali. — Não viu...

— Cadê ele? — Bunny questionou.

— Não importa, vamos, já sabemos pra onde ir. — Bunny concordou. — Mas acho que iremos mais rápido pelo ar. Sandy, acha que pode nos dar uma mãozinha?

E assim Sandman o fez, manipulando sua areia dos sonhos, nos colocou em cima de um daqueles aviões de papel que as crianças fazem muito para brincar, exceto que dessa vez não era papel de verdade, logo saímos voando por cima da floresta. deixando para trás a cidade abandonada com a Lua a nos acompanhar, pude ouvir os uivos ficando cada vez mais longe, o cenário de horror pouco a pouco distante.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Nosso caminho foi bem tranquilo, claro que ficamos em silencio o tempo inteiro, cada um perdido em seus pensamentos, os meus, por motivos que ainda não sei explicar muito bem, não paravam de pensar em Cupid, e se ele estaria bem, se estava precisando de ajuda ou não, o que é claro que ele não estaria. Desde o momento em que nos encontramos com ele, parece nunca precisar de ninguém que não sejam os seus dragões, por quê? Era só o que eu queria saber pra poder entender ele um pouco melhor, agora o porquê eu queria isso já era desconhecido, apenas sentia essa atração, essa vontade de querer saber tudo sobre ele, de estar com Cupid, por mais que o guardião não goste.

Enfim em pouco mais de meia hora acabamos de atravessar a floresta, Sandy já estava direcionando nosso avião de papel de areia no chão, a cidade abandonada não era mais visível, suas sombras se misturavam com a da floresta a tornando completamente oculta, se não fosse pelas formas angulares das construção poderíamos dizer que era apenas mais uma parte da floresta, isso se não tivéssemos parado lá primeiro.

Enquanto Sandman aterrissava tentei identificar as duas montanhas que a criatura da cidade havia apontado, não foi complicado, visto que estávamos a apenas alguns passos dali. Dali mesmo, partiríamos andando para encontrar o hotel.

Não demorou muito para encontrarmos a estrada de pedra que deveríamos encontrar e logo mais a frente, no meio do vale de montanhas, uma construção antiga escondida pela neblina, porém com algumas luzes acesas. Pouco mais a nossa frente estava um placa dizendo: "Hotel Transilvânia, Humanos São Bem-vindos". Sandman, Bunny e eu nos entreolhamos satisfeitos. Chegamos.

❄❅❆❆❅❄

Nos dirigimos para a construção, passando pela estrada de pedra e pela ponte que interligava ao Hotel, aparentemente nós estávamos mais alto do que pensávamos, visto que por conta da neblina não conseguíamos nem ver o chão, a não ser várias pedras enorme pontiagudas que cercavam o local. A Lua estava um pouco a cima do Hotel, facilitando a nossa visibilidade.

O lugar mais parecia um palácio, mas não como o de Cupid, chegava a ser até mais moderno que o mesmo, porém com um tom mais sombrio.

Em pouco tempo já estávamos em frente ao que acreditei que seria a porta de entrada, era simplesmente enorme, maior até que Bunnymud, nos entreolhamos querendo saber qual dos três iria bater a porta quando ela simplesmente se abriu e de trás dela uma silhueta bem humana, diferente daquilo que eu esperava ver.

— Hora, hora, parece que temos mais hóspedes, por favor, venham, venham. — Disse seu dono com um sotaque estranho, apenas fizemos o que havia pedido, assim que entramos pude ver e comparar a entrada do palácio de Cupid, ali também era parecido, porém não haviam as estatuas, apenas armaduras antigas posicionadas nas paredes, enquanto um longo tapete vermelho se estendia pelo centro. — Sejam muito bem-vindos ao Hotel Transilvânia, eu sou o dono e seu anfitrião, Dracula. — Pude dar uma olhada no sujeito. Alto de pele pálida, usava um smoking preto com uma capa preta, rosto longo, olhos azuis, se não fosse pelos seus dentes pontudos, ele seria bem mais amigavel do que parecia. — Vão ficar alguns dias, ou apenas a noite?

— Oi? Não nós...

— Primeiro vamos fazer o check-in de vocês, vamos! — Não consegui nem terminar de falar, nosso anfitrião simplesmente nos abraçou e saiu nos empurrando, Bunnymud parecia até mais perdido que eu, eles nos deixou em frente a um balcão ainda na entrada do lugar, em segundos ele desapareceu de trás de nós e reapareceu por trás do balcão. — Quais são os nomes? Como vocês vieram juntos, vão querer ficar no mesmo quarto? — Perguntou sorrindo animado.

— Não, nós...

— Ah sim, quarto separados. — Começou a folhear um livro a sua frente rapido, cortando Bunny de poder falar qualquer coisa. — Assim o valor é cobrado individualmente, ok? Ok.

— Você não está entendendo, nós não viemos para ficar. — Ele parou.

— Como é? — Quando levantou seus olhos para nós, estavam aterrorizantes, principalmente com os os quatro dentes pontudos a mostra, olhei para Bunny, passando a bola para o mesmo.

— Nós n-não viemos para passar a noite, e-estamos apenas procurando a-alguém.

— Ah sim. — Seu rosto voltou ao normal, voltei a respirar normalmente. — Sabem, não posso ficar passando informações sobre meus hóspedes assim, nem ao menos conheço vocês.

— Sabemos disso, Jack Skellington foi quem...

— Jack Skellington? — Ele pareceu surpreso. — Vocês são amigos dele? — Não diria amigos. — Já ouvi tanto falar dele, mas nunca o conheci pessoalmente, grande parte dos meus hóspedes monstros são da cidade do Halloween.

— Estamos procurando alguém que possa ser de lá e que talvez esteja hospedado aqui. — O dono do lugar ficou um pouco pensativo, mas logo fez um gesto discreto para que continuássemos. — O nome dele é Skreeklavic Shadowbent. — O espanto se fez em seu rosto.

— Vocês também estão procurando por ele? — Também? Virei para encontrar os olhos dos outros, já sabiamos a resposta.

— Desculpe, você disse "também"? Mais alguém apareceu aqui procurando por ele? — Bunny perguntou para se certificar.

— Sim. Um garoto, como você. — Apontou para mim. — Porém com asas enormes, roupas diferente, cabelos castanhos...

— Cupid.

— Sim, acredito que esse seja o nome que ele tenha dito, mas como eu disse á ele, vocês chegaram um pouco tarde, o senhor Shadowbent acabou de sair com a sua matilha, só estará aqui pela manhã, se quiserem esperar, fiquem a vontade, porém ainda falta muito para amanhecer.

— Um momento. — Bunny puxou minha toca e Sandy junto. — O que faremos?

— Já sabemos que Skreeklavic Shadowbent não está aqui agora, creio que temos de encontrar Cupid, nos reunir caso tenhamos alguma surpresa. — Não creio que eu tenha conseguido enganar alguém.

— O que vocês estão fazendo aqui? — Um alivio percorreu meu corpo assim que ouvi aquela voz. O tom irritadiço de alguém que aparentava não precisar da ajuda de ninguém, de alguém que estava bem, minha vontade ao vê-lo foi de, estranhamente, abraçá-lo, não era bem uma vontade, parecia uma necessidade muito forte, mas no mesmo instante deixei aquele sentimento passar ao lembrar que estava me... Nós estávamos nos preocupando com ele e ele nem ao menos seria grato por isso.

— Recebemos uma pequena surpresa assim que você resolveu sair depois de ter conversado com Tooth. — Cupid ficou surpreso, assim como nós ficamos depois do intimato da sombra de Pitch. — Sim, a sombra de Pitch apareceu para nós de novo.

— Shiu. — Cupid voou para mais perto de nós. — Aqui é um lugar aberto, não é um bom local para discutirmos sobre o assunto. — Cochichou e depois se virou para o nosso anfitrião. — Reloque-os para o meu quarto, por favor. Estão comigo.

— Para já, senhor Haddock. — Dracula voltou para seu livro. — Precisam de ajuda para mais alguma coisa?

— Não, só isso. Só ficaremos esta noite. — O outro assentiu. — Os levarei até o meu quarto se não se importa. — E com as suas, Cupid nos envolveu e empurrou para longe daquele espaço.

Saimos pela segunda porta que tinha ali entrando num saguão enorme, todo decorado com quadros e armaduras. O lugar relembrava um outro tempo, bem distante do que vivemos agora, o que o tirava completamente da realidade eram os ocupantes do lugar, todos eram monstros, mas pareciam ser mais amigáveis que aqueles da cidade do Halloween, uma vez que não pareciam tão incomodados com a nossa presença, alguns nos encaravam e sorriam, outros simplesmente nos ignoravam.

Cupid foi nos guiando entre eles, subindo escadas, passando por alguns corredores e várias portas, o suposto hotel era enorme. Logo o guardião do amor parou em frente a uma porta e nos puxou para dentro, nem mesmo deu para ver o numero do quarto.

— Pois bem, contem-me o que aconteceu, depois podem brigar comigo. — Trocamos olhares, se eu começasse a falar sobre o que tinha acontecido, era provável de acabar em mais uma brigar com o outro. Sandman poderia até tentar explicar pelo uso de sua areia, mas a garantia de entendimento era baixa. Sobrou Bunny. Apenas fiz um gesto para que ele o fizesse, e assim fez.

Enquanto Bunny explicava para Cupid o que tinha acontecido no castelo de Tooth, fui dar uma olhada no quarto em que nos encontrávamos.

Paredes de pedras, alguns moveis com velas em cima, tinha uma cama, a única tecnologia ali era o abajur, e a decoração era de escudos e espadas com pelo menos uma tocha em cada parede, as armaduras tinham ficado para os corredores. Havia uma lareira ali e uma sacada também, era possivel ver uma pequena parte da Lua iluminando a noite, fui dar uma olhada e sentir a brisa da noite, o ar frio, respirei bem fundo, relaxando pela primeira vez em dias, definitivamente poderia ficar ali por um bom tempo.

Foi ao observar a paisagem que eu tive um pequeno clique. Tudo isso era familiar. Como se eu já tivesse visto ou estado ali antes...

— Jack! — Fui puxado de volta para a realidade por Cupid. — Você está bem?

— Estou, o que houve?

— Você estava divagando.

— Eu tive uma sensação, — Olhei para trás, encarando a noite mais uma vez. Parecia tudo novo de novo, o momento tinha passado. — mas já foi.

— Você está cada vez mais sério, garoto da neve. Isso é preocupante.

— E a culpa disso é de quem? — Voltei a olhá-lo fixamente nos olhos, aqueles olhos verdes, hipnotizantes.

— Eu sei, peço desculpas por ter saído assim, mas foi instinto, não consegui me controlar, depois de conversar com Tooth, precisava sair.

— E o que foi que vocês conversaram, falando nisso? — Perguntei sem querer, a pergunta estava me batendo de uma maneira que não aguentava mais, queria saber porque Tooth queria falar com ele a sós. Será que ela... Não, por quê eu to pensando nisso?!

— Nada demais, assuntos meu e dela. — Sorriu. — Acho que deveríamos todos descansar por algumas horas, já sabemos que o subordinado da Lua só vai estar aqui no hotel pela manhã, não vale a pena encontrá-lo cansado, e já que estamos aqui.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Precisamos avisar aos outros sobre nossos planos. — Bunny interviu.

— Sim. Mandarei uma mensagem para que eles não se preocupem.

❄❅❆❆❅❄

Acordei subitamente. Assustado. Tinha tido o mesmo pesadelo.

Pitch sendo enforcado por duas pessoas que não conseguia identificar, a placa com a palavra "Hollow", uma pessoa pulando em cima de mim, quem será?

Percebi então que havia adormecido perto da sacada, do meu plano de visão era possível ver o mundo a fora agora ainda mais belo com o sol nascendo. Voltei a olhar pro quarto, Bunnymud estava próximo da porta dormindo em pé, Cupid estava sentado na cama olhando para o nada, diferente de nós, não parecia ter dormido.

— Onde está Sandy? — Perguntei, o tirando de seus devaneios.

— Saiu a noite enquanto vocês dormiam, deve estar voltando. — Respondeu. É claro que ele sairia a noite, Sandman é o guardião dos sonhos.

— Bom, já está de manhã. — Cupid me olhou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Podemos ver se o subordinado da Lua já voltou.

— E Sandman? Seu amigo dormindo?

— Dou um jeito nisso em um piscar de olhos. — Levantei do meu lugar e encostei meu cajado na parede atrás de mim, esfreguei as mãos uma na outra até uma bola de neve se formar, em seguida atirei em Bunnymud que logo caiu no chão, muito irritado, pela primeira vez ouvi uma pequena risada vindo de Cupid.

— Frost! — Ele esbravejou, já se levantando, rapidamente peguei meu cajado.

— Calma lá Kangaroo, só estava te acordando. — Tentei me defender, não conseguindo evitar o sorriso.

— Não tinha jeito melhor?!

— Preferia um balde de água? — Ele apenas bufou de volta, tentando manter a calma ao mesmo tempo que Sandman aparecia pela janela, nos saudando com seu sorriso.

— Agora que estamos todos aqui, vamos? Quero pelo menos a resposta pra alguma pergunta ainda hoje. — Olhei para os outros, todos acenaram e estava decidido, não iriamos sair dali sem pelo menos uma resposta.

Saímos do quarto, refazendo todo o nosso caminho até o saguão principal. Notei que todas as janelas estavam cobertas por cortinas, impedindo que qualquer resquício de luz solar entrasse no lugar, não havia muito movimento pelo Hotel, talvez os hóspedes ainda estivessem dormindo, lembro que antes de adormecer ouvi muitos barulhos vindo do lado de fora, bem mais distante de nós, como se fosse uma festa, o que me levou a crer que pudessem ter festejado na noite anterior.

Ao chegarmos no balcão não encontramos ninguém, a não ser um daqueles sinos de hotel dourado, Bunnymund deu mais uma olhada ao nosso redor e apertou no pequeno botão, fazendo soar o sino. Um vento, vindo sabe-se lá de onde, passou por nós e em segundos o dono do Hotel havia aparecido a nossa frente.

— E como posso ajudá-los? — Perguntou sorrindo mostrando suas duas presas, pelo menos era um sorriso amigável.

— Gostaríamos de saber se o hóspede Skreeklavic Shadowbent já se encontra no Hotel. — Cupid respondeu por nós.

— Ah sim. Ele a... — O vampiro foi interrompido por outra voz.

— Vejo que conseguiram chegar ao Hotel Transilvânia. — Virei junto dos outros para identificar o dono da voz e fui atingido por mais um sentimento de familiaridade. A voz, a silhueta, o rosto, tudo era familiar.

— E você quem é? — Bunnymund o questionou curioso.

— Sou quem vocês estão procurando. Skreeklavic Shadowbent. — Sorriu, mostrando dois dentes afiados, mas bem diferentes dos de Dracula, estes eram mais grossos e amarelados. — Dracula, por favor, poderia nos dar licença, tenho muito o que conversar com esses visitantes. — O vampiro acenou relutante, porém logo desapareceu, estávamos só nós ali agora. — Vocês demoraram a aparecer. — Todos nos entreolhamos.

— Você é aquela criatura de ontem. — Constatou Bunnymund, o outro apenas sorriu em resposta, tentei imaginá-lo com pelos e a imagem era clara. Nós havíamos nos encontrado ontem e nem tínhamos percebido.

— Por favor, me acompanhem, quero falar com um pouco...

— Você estava nos esperando. — Cupid o cortou. — Como sabia que viríamos? — Mais uma vez o lobisomem sorriu, era difícil de interpretar se ele estava sendo amigável ou apenas cínico.

— Seu amigo me avisou sobre isso há muito tempo atrás.

— Que amigo? — Ele não respondeu, apenas gesticulou com a mão para que o seguíssemos, Cupid não gostou muito, e eu muito menos, mas se queríamos respostas, não tínhamos mais o que fazer a não ser segui-lo. Passamos pela outra porta mais uma vez e viramos a esquerda, entrando em uma sala com uma mesa enorme, varias cadeiras, sem ninguém mais.

— Aqui teremos um pouco mais de privacidade. — Entramos e ele fechou a porta atrás de nós. — Por favor, sentem-se. — Obedecemos, exceto por Cupid, Skreeklavic o observou, mas não demonstrou nenhuma reação. Nenhum sorriso. — E então, o que querem comigo? — Quebrou o silencio, mas sem desviar o olhar do guardião do amor.

— Diga-nos você. Você quem estava nos esperando, como?

— Seu amigo...

— Que amigo?! — Cupid interpelou desesperado, queria ouvir o nome dele, consegui sentir isso, e a vontade de abraçá-lo para que ele se acalmasse aumentou, porém me segurei ao máximo.

— Nightlight, o nome dele. — O outro suspirou profundamente se segurando em uma das cadeiras, apertando. — E antes que pergunte, não sei onde ele estaria nesse momento.

— "Nesse momento"? — Repeti com duvida. — O que quer dizer com isso?

— Nightlight leu o Livro da Vida. — Para mim, mais uma novidade, obviamente não era o mesmo para os outros que pareciam estar chocados.

— Então ele encontrou...

— Santoff Claussen? Sim. — Respondeu cortando Bunnymund de terminar sua frase.

— Achava que era apenas uma lenda. — Bunnymund resmungou baixo.

— E você, nós não somos lenda? Onde está Nightlight?! — Cupid se levantou da cadeira abrindo as asas, aumentando um pouco seu tom de voz, parecia estar bravo.

— Já disse que não sei onde ele está. — Skreeklavic não demonstrou nenhuma reação, não parecia se intimidar pelo guardião do amor, nem mesmo com as roupas viking ou as asas de dragão, nada. — Ele apenas me disse que você viria um dia, procurando por ele mesmo e que precisaria de ajuda, uma ajuda que somente eu poderia oferecer. — Porém Cupid não parecia satisfeito, apenas bufou e voltou a se sentar.

— Queremos conversar com Manny.

— Manny?

— Man in the Moon. — Bunnymund tentou desviar o assunto ao que realmente importava, enquanto Sandman tentava confortar Cupid batendo em seus ombros. — É um caso de emergência.

— Impossivel.

— Por quê?

— Ninguém consegue falar com ele assim tão fácil, o único que conseguia era Nightlight.

— Mas você...

— Eu sou apenas um "criado", — O lobisomem quase cuspiu as palavras, não parecia gostar de conversar sobre o assunto. — Man in the Moon me ofereceu uma nova oportunidade de viver, assim como ofereceu para vocês. A diferença é que eu não sou guardião de nada e posso ser visto por todos, e claro, protejo meus semelhantes, mas isso não significa que eu consiga falar com ele a hora que quero. — Por um instante, nossa visita pareceu ter perdido seu propósito, se o lobisomem não conseguia falar com Manny, então de que adiantava estarmos ali. — Era só isso? — Voltei meu olhar para os outros, Bunnymund estava desapontado, Cupid não encarava ninguém, estava quase se fechando em um casulo com as suas asas, porém Sandy fazia gestos para mim. Claro.

— Na verdade não, senhor Shadowbent. — Ele me encarou, assim como os outros. Levantei da cadeira e me direcionei para Cupid. — Nós encontramos essas palavras em uma casa em Halloween Town, — Argumentava enquanto mexia nos bolsos da roupa do outro procurando pelo papel com as palavras. — e gostaríamos de saber se elas tem algum significado para você. — Quando encontrei um papel, o retirei do bolso e o verifiquei, em seguida entreguei para o outro. — Aqui.

Skreeklavic analisou o papel e o seu conteúdo, pude ver enquanto seus olhos passavam lendo as palavras aleatórias escritas ali, e uma parte de mim acreditou que ele estava tentando encontrar algum significado em tudo aquilo. E eu estava certo.

— Espere um momento... Essas primeiras palavras... — Ele abaixou o papel, olhou para cada um de nós e voltou a ler, até Cupid se desfez de seu casulo. — Quase como uma melodia.

— O que quer dizer? — Questionei.

— Canção. — Ele continuava pensando. — Rimas.

— Profecia. — Bunnymund complementou.

— Isso mesmo. — Skreeklavic pareceu satisfeito. — As Profecias da Lua.

— Profecias da Lua? — Perguntamos todos.

— Eram as primeiras escritas encontradas no Livro da Vida. Apenas aqueles com um vinculo com o Man in the Moon sabiam de sua existência, — Ele olhou para nós. — uma vez que elas falam dos guardiões. De vocês. — E apontou. — Essas primeiras palavras, são de uma delas.

"Espirito do Inverno ao quatro irá se juntar,

Para que juntos o terror possam derrotar,

Um a um desacreditados os guardiões serão,

Até somente o bicho-papão restar então.

O medo irão vencer quando o rebelde seu cerne aceitar

E as intrigas entre os guardiões enfim acabar."

O lobisomem recitou para nós como se fosse uma música que todos conheciam, uma música bem antiga. Quando fui encarar os outros, descobri que já me encaravam, todos nós sabíamos ao que essa primeira profecia se referia: à nossa batalha contra Pitch há alguns anos atrás, quando me juntei aos guardiões, isso não restava dúvida.

— E as outras? — Cupid inadagou.

— Não me lembro muito bem. — Voltou a olhar pro papel, tentando encontrar mais sobre as profecias. — Apenas recordo dos primeiros versos de uma outra que bate com as outras, quem deveria saber mais sobre o assunto é Nightlight.

"Aquele que uma vez o terror prendeu e o horror poupou,

Guardião Primordial, o Homem da Lua nomeou.

Por ele os guardiões devem procurar

E..."

— E?

— E... — Shadowbent batucava em sua cabeça, tentando lembrar do que faltava, mas não pareceu funcionar. — É só isso o que me lembro, me desculpem. — Ficamos em silencio.

— Depois de todo esse tempo... — Cupid sussurrou antes de destruir a cadeira onde estava sentado com suas asas abertas, seus olhos verdes mostravam a raiva que sentia, pareciam pequenas chamas verdes. — Depois de todo esse tempo é isso a que tudo se remete?! — Não deixou que nenhum de nós chegasse perto para acalmá-lo. — Por anos pedi uma ajuda ao estúpido Man in the Moon e é isso que recebo?! — E se dirigiu a porta, pronto para sair dali, todos ficamos confusos com sua reação, exceto uma pessoa.

— Há mais uma coisa Cupid. — O lobisomem disse, impedindo que o guardião do amor saísse do recinto. — Há mais coisas na sua biblioteca do que você consegue imaginar. — E olhou para mim sorrindo, mas Cupid já havia saido da sala. Ninguém mais havia notado aquela troca de olhares e Skreeklavic não precisou fazer mais nada para que seu recado para mim fosse entendido; ele sabia o que estava na biblioteca. Não o que, mas quem.

— Muito bem, obrigado, senhor Shadowbent, nos foi de grande ajuda. — Bunny já se preparava para se levantar da cadeira assim que resolveu olhar para mim. Não podiamos perder Cupid mais uma vez. — Nos desculpe por qualquer incomodo com esse assunto, agora nós já vamos. — E se dirigiu a porta, seguido por mim e Sandy, mas antes que eu pudesse sair o lobisomem colocou o braço direito na minha frente, impedindo a saída.

— Há um recado para aquele que tudo esqueceu. — Ele sussurrou bem próximo à minha orelha. — Diferente dos outros essa não é sua segunda vida. Suas memórias foram falsificadas, alguém o está manipulando e não quer que você se lembre de quem foi.

— Quem lhe disse isso? — Cochichei de volta.

— O mesmo que me preparou para tudo isso.

— Você não parece tão leal ao Man in the Moon quanto deveria ser. De que lado você está? — Perguntei diretamente, Skreeklavick sorriu maliciosamente.

— Do lado que me beneficia melhor, é claro. Neste momento estar contra vocês não é ser astuto para o que está por vir. — E piscou para mim.

— Jack! — Ouvi Bunnymund me chamar do outro lado. Shadowbent abaixou o braço, permitindo que eu passasse. — O que houve?

— Nada. — Respondi, seguindo em frente.

Por alguma razão não consegui mais manter o foco, mesmo depois de ter conseguido uma pista importante do que deveriamos fazer em seguida. De repente nada daquilo era importante. A única coisa que importava é que eu não sabia mais o que era real e o que era mentira. Aparentemente minhas memórias não era verdadeiras e, logo, quem eu era também não. E se nada daquilo era verdade porquê o pesadelo que tenho tido nos últimos dias seria? Por quê me preocupar com tudo isso? Por quê eu sou um guardião? Por quê eu?


❄❅❆❆❅❄

Achava que iria conseguir respostas naquela noite, mas consegui deixar minha própria existência em dúvida, a Lua mentiu para mim, eu não era quem acreditava ser.

Não lembrava mais o que tinha acontecido. Sei que não voltei a procurar por Cupid e que estava a beira de um abismo, pensando. Tinha deixado os outros para trás em algum momento sem me preocupar em dizer aonde ia e o que ia fazer, apenas sumi, mas não tinha ido muito longe, pensei em voltar para casa, para Burgess, só que naquele momento não era mais casa.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ali era o lugar onde eu pensava que tinha morado com minha irmã e minha mãe quando era humano, isso até o momento de Skreeklavick Shadowbent resolver desmentir minhas lembranças, nada mais fazia sentido para mim.

— Frost? — Ouvi uma voz muito familiar vindo de trás de mim, mas não virei para ver quem era. — Você está bem? — Ele encostou em meu ombro. — Olha, me desculpa por mais cedo... Receber uma noticia assim não foi fácil pra mim. Desculpe se tenho te tratado mal é que... — Sua voz falhou, pude sentir que ele estava próximo de chorar. — É que... Você conseguir entender o nórdico antigo, me lembrou dele, Jack. Me lembrou de Nightlight. — Senti sua mão apertando meu ombro, mas não era só isso, tinha um peso a mais em tudo aquilo. — Desde a primeira vez que te vi, você me recorda dele. E isso dói. — O guardião do amor tirou a mão de meu ombro e sentou com as costas encostadas nas minhas, não foi fácil, já que apenas senti os ossos de suas asas. — Por isso, me perdoe, por tudo o que tem acontecido entre nós, não sei o que tem dado em mim, estou tentando melhorar, mas você já sabe que quando o assunto é ele, perco a cabeça. — Continuei em silencio. — Por favor, não fique bravo comigo. Sei que pareço não ligar muito, mas... Eu me importo, Frost. — Porém não aguentei mais escutar suas desculpas, não, quando não tinha com o que ele se desculpar.

— Não precisa pedir desculpas, Cupid. — O ouvi suspirar. — Não estou bravo com você.

— Não está? Então, por quê todo esse silencio?

— Skreeklavick Shadowbent. Nightlight disse à ele que as memórias que eu tenho são falsas, que alguém está me manipulando. Isso significa que a menina que eu acreditava ser minha irmã, a mulher que eu pensava ser minha mãe, não existem, nada do que eu acreditava era real, era tudo mentira. — Deixei que meus sentimentos me penetrassem, sem controle, comecei a chorar e junto disso veio a neve, segurei forte no cajado, não queria que aquilo acontecesse agora, mas não consegui evitar. Era um sentimento maior do que eu. — Não sei quem eu sou Cupid. Não sei mais.

— Hora essa! — Ele se levantou. — Você é Jack Frost! Guardião das crianças.

— Como posso ser um guardião se não sei quem eu era antes disso? Não posso continuar vivendo numa mentira. Os guardiões nunca foram para mim, sempre soube disso. — Senti uma batida em minha cabeça. — Ai! — Murmurei de dor. — O que está fazendo? — O encarei pela primeira vez desde que tinha chego ali. E pude ver neve em seus cabelos castanhos, cobrindo um pouco de sua roupa viking enquanto ele segurava seu acordo me encarando com os seus olhos, ardendo em chamas verdes.

— Não importa quem você foi, importa o que você é hoje. E hoje você é um guardião, tem a responsabilidade de cuidar e proteger todas as crianças do mundo! É isso o que você é! Agora pare de chorar como uma criança! — Enxuguei um pouco das minhas lágrima para mantê-lo em meu foco, mas abaixei os olhos logo em seguida, o ouvi bufar antes dele se abaixar e colocar a mão em meu ombro novamente. — Olha você está perdido. Eu sei, mas ficar nesse estado não vai lhe ajudar em nada, se quer realmente saber quem você foi, temos de encontrar Nightlight.

— Encontrar Nightlight?

— Se o encontrarmos podemos perguntar ao Man in the Moon sobre toda a verdade, só que você tem que me ajudar. — Era uma proposta interessante, assim os dois lados ganhavam. — Aqui. — Voltei a olhar para cima, ele estava me entregando seu arco.

— Pra quê isso?

— Sabe... Quando recebi essa nova chance, estava sem propósito, sem objetivo algum. Estava minha namorada, meu melhor amigo e minha família, sem ninguém, até conhecer Nightlight. Foi ele quem me ajudou, e sabe como?

— Como?

— Ele fez esse arco e as flechas para mim, para que eu sempre tivesse uma direção. E eu acho que é isso que você, eu, os guardiões, todo mundo, está precisando agora, uma direção. — Ele balançou o arco para mim. — Vamos fazer isso? Juntos? — Enxuguei o resto das lágrimas e levantei sorrindo para Cupid, que pela primeira vez, correspondeu sorrindo de volta.

— Vamos. — Respondi pegando no arco ainda sorrindo, um momento que desapareceu logo.

— Que frio! — Cupid reclamou soltando em seguida o arco de madeira.

Quando ambos olhamos para ele, pudemos ver a fina camada de neve que havia se formado por cima, se estendendo de ponta a ponta, sem mais, nem menos, o guardião do amor começou a andar para trás, se afastando, e por mais que minha cabeça mandasse soltar o arco, minhas mãos não obedeciam. Assim que terminou de se expander, um brilho branco começou a surgir do meio e foi aumentando, até me cobrir totalmente, era magia. Uma magia forte, conseguia sentir isso.

Em poucos segundos, depois que o brilho branco me cobriu totalmente, houve uma explosão.