— Mas que portas? – Perguntei.

— As portas que Jack Skellington usou para ir até o Polo Norte. As mesmas portas que conectam a cidade com o mundo humano. – Spuky respondeu e tudo se fez mais claro, as portas que eles falam são as mesmas que as crianças sequestradas usaram para ir atrás de Bunnymund e de North.

— Mas elas existem aqui? Quero dizer daqui para lá?

— Como acha que Jack voltou para ajudar seu amigo gorducho? – Cripy parecia ser desses diretos, sem medir suas palavras, não contive o sorriso, nem North teria se contido, ele mesmo tem orgulho da própria pança.

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— Em Halloween, há uma floresta que chamamos Hinterlands, ou simplesmente, Holidays Woods¹, onde estão localizadas as portas que levam para cada um dos guardiões com dias especiais, como Sandy Claws, o coelho rosa e seu amigo do amor. – Spuky explicou. – Acredita-se que em cada lugar existam as mesmas portas, caso contrário como teria Jack voltado para casa?

— Cupid tem um dia especial. – Raciocinei com ele.

— Sim.

— Então há portas por aqui?

— É bem provável.

— Mas onde elas estão?

— É ai que está, não sabemos. Podem estar em qualquer lugar... – Antes que Spuky pudesse terminar, a porta da biblioteca abriu. Os pequenos fantasmas logo desapareceram enquanto Cupid entrava calmamente com as asas contraídas.

— Garoto da neve? O que está fazendo aqui? – Troquei olhares com ele desesperadamente tentando pensar em uma desculpa, dei uma olhada para trás e vi a pequena criatura que já era minha amiga.

— Alimentando Snowburst.

— Snowburst? – Ele parou uma pouco para pensar. – Ah sim, o dragão, mas na biblioteca?

— Hã... Sim.

— Por quê?

— Ele parece gostar bastante da biblioteca, sempre que vejo está aqui.

— Entendi. – O silêncio entre nós não era nada agradável, então decidi quebra-lo.

— Mas e você Cupid, o que faz aqui hoje?

— Queria conversar com você, – Lá vem. – sobre você querer tão desesperadamente ir para Halloween. É tudo o que você tem pensado nos últimos dias e acho que agora sei porquê.

— V-você sabe? – Perguntei surpreso.

— Você têm tido pesadelos não foi?

— Pesadelos? – Engoli em seco, não imaginava que ele soubesse disso.

— Não precisa ter medo de admitir isso. Venha. – Ele pegou em minha mão e me puxou para perto da mesa da biblioteca, Não tenho medo de admitir, pensei comigo mesmo. – Eu sei como é. – Ele começou enquanto se sentava à uma cadeira obrigando-me a sentar na mais próxima. – Também já os tive.

— Você?

— Sim. Logo que... – Ele respirou fundo enquanto olhava para a pintura na parede. – Ele sumiu, me senti perdido, não só com meu dever, mas comigo mesmo. O procurei por todo o lugar, até no lugar mais impossível.

— Halloween. – Conclui.

— Sim. Até mesmo lá, foi assim que conheci Jack e sua história com os outros guardiões. – Cupid sorriu. – Lembro que fiquei tanto tempo procurando por pistas que nem tinha percebido que o Man in the Moon havia escolhido mais guardiões. Fiquei ausente por séculos enquanto meus amigos dragões e os novos escolhidos faziam o serviço que eu deveria ter feito, não me orgulho disso, nem um pouco, mas...

— Você estava perdido.

— O amor nos leva a loucuras, Jack Frost. – Fez uma pausa. – Principalmente quando se tem um pesadelo com aquele ama.

— E o que você sonhou?

— Foi logo após ter entrado na cidade do Halloween pela primeira vez. – Continuei a observá-lo, Cupid estava nervoso, seu olhar perdido no chão da biblioteca, se ele quisesse falar, falaria. – Sonhei que o encontrava, que o tinha em meus braços mais uma vez e eu tinha certeza de que ficaríamos juntos para sempre, até ele olhar para trás, uma luz branca imensa nos irradiou e tudo que consigo ouvir antes dele se afastar de mim é: "Você estava certo", então eu sei... – Cupid faz uma pausa. – Eu sei que vou perdê-lo mais... Mais uma... – A voz de Cupid falhou, ele não conseguiu terminar, mas ficou claro qual seria o final de sua frase, vejo seu rosto molhado com as lágrimas, ajudo-o a enxugá-los. – Eu voltei à cidade do Halloween múltiplas vezes em busca de alguma resposta, mas não consegui nada, não tem resposta ou pista para isso. Os cidadãos acreditam que esses pesadelos que acontecem aos visitantes não passam de sonhos ruins, por conta da cidade em si, enquanto outros acreditam que eles nos mostram uma parte pavorosa de nosso futuro. – Tentei digerir toda a informação de Cupid, ele tem o costume de querer dar tudo assim de uma vez, é muito pra se pensar.

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— E no que você acredita? – O olhei nos olhos.

— Acredito que o que quer que seja isso, te atormenta profundamente, vai te fazer perder a cabeça para saber se o que viu é verdade ou não. – Continuávamos a trocar olhares. – Não sei o que você sonhou, mas não busque por respostas na cidade do Halloween, não vai lhe trazer nenhum bem. – Ficamos em silencio novamente, o que não durou muito, dei uma breve olhada enquanto ele dava um pequeno sorriso e se levantava da cadeira, saindo da biblioteca. – Não caia de cara nesses livros e não fique tão sério garoto da neve, diversão ás vezes é muito bom. – E riu alto fechando a porta.

Por alguns instantes ficou eu e meus pensamentos.

Cupid havia perdido seu amor, o procurado em todos os lugares possíveis e, provavelmente, impossíveis por anos, sem desistir, por quê? O "amor" podia ser uma palavra pequena, mas como era complicada.

— É verdade? – Perguntei para o vazio da biblioteca, não estava louco, sabia que os fantasmas estavam ali e que tinham ouvido a conversa.

— Cada palavra. – A voz de Spuky ecoou embora ele ainda não estivesse visível. – Por isso não interrompemos seu pesadelo na primeira vez, é como um rito de passagem que todo visitante à Halloween deve passar.

— Para que nunca mais voltem a nossa cidade, essa é nossa proteção. – Cripy completou. – Divertido não? – Ironizou.

De fato. Se aquele lugar aterrorizasse a mente de uma criança, ela provavelmente jamais retornaria a cidade, e essa deve ser a ideia, mas a minha mente não deve ser a única a ter sido perturbada, afinal não fui o único a ir para lá, não consigo nem imaginar com o que os outros devem ter sonhado, porém adoraria saber.

Estava escurecendo quando finalmente sai do palácio de Cupid, literalmente, às escuras, não vi se ele estava lá, apenas ouvi os rosnados de Toothless, provavelmente brigando com os pequenos dragões, enquanto me despedia de Snowburst. Quanto aos três fantasmas, pedi para que ficassem bem atentos caso o guardião do amor resolvesse ler alguns livros.

— Ele nem saberá que estamos aqui. – Não foi Spuky que respondeu e sim Cripy, o que não me deixou muito confiante, mas ainda sim os deixei, precisava dar uma esfriada.

Os recentes acontecimentos tinham tomado todo o meu tempo e essa história de ser guardião ainda não me servia direito, se eu soubesse mais sobre meu passado, sobre quem eu era, talvez pudesse aceitar de fato o fardo, não que fosse ruim cuidar de crianças, pelo contrário, era divertido, só que seria esse mesmo o meu cerne? Sandman, Cupid, North, Tooth, Bunnymund, todos sabiam quem eles tinham sido no passado, por quê eu não?

Enquanto voava pela cidade pude ver a nuvem de areia dando sonhos as crianças, não deixei de sorrir, como era belo aquela visão, para Sandman tudo aparentava ser tão fácil, nem parecia que apenas alguns anos atrás ele tinha sido engolido por pesadelos, me pergunto se depois dessa visita a cidade do Halloween, ele teve pesadelos, Mas que idiota, ele é o rei dos sonhos, como poderia ter pesadelos?, reprimi a pergunta e a vontade de fazê-la, nunca que eu entenderia sua resposta mesmo. Distanciei-me, mas não importasse o quanto me afastasse de suas areias, mais longe elas iam, eram muitas crianças para alcançar.

E dentre toda aquela calmaria veio um grito, por quê sempre um grito?, porém não era um grito qualquer, diferente daquele que ouvimos na casa de North e na toca de Pitch, esse era claro: uma criança. Parei no lugar em que estava, na beirada de um prédio.

— Mama! – A criança chamava. Atentei-me mais e com a ajuda do vento consegui encontrar a fonte bem no prédio a frente de onde estava, no quarto andar. Pulei para a janela e espiei dentro, era provavelmente o quarto de uma garotinha, as cores das paredes e os brinquedos denunciavam. Do outro lado do quarto havia uma cama, os lençóis se remexiam, a menina estava sentada na cama, olhava assustada para um ponto do quarto. – Mama! – Ela gritou novamente, segui seu olhar, mas tudo o que consegui ver foi uma sombra, Por quê sempre sombras?!, e um par de olhos, parecidos com de um gato, dourados e, de certa forma, selvagens.

A luz do quarto acendeu, tudo que era sombra se dissipou, assim como aqueles olhos horripilantes. A menina era consolada pela mãe, rapidamente ela pulou da cama e começou a apontar para o travesseiro, a mais velha o levantou e dali tirou uma moeda amarrada por uma linha fina a um dente grande demais para ser de uma criança como aquela. Até ela pareceu assustada, começou a murmurar coisas, em uma lingua que não entendi, para a filha, me retirei da janela, O que foi aquilo? E só o que sei é que tenho de avisar os outros.

❄❅❆❆❅❄

Com a ajuda do vento voltei para o palácio de Cupid, se tinha uma hora para usar as portas, seria agora, só assim para reunir todos os guardiões o mais rápido possível.

— Cupid! – Chamei assim que passei pela porta de entrada, esquecendo completamente dos dragões que deveriam estar dormindo, mas se Cupid não estivesse ali, pelo menos Toothless estaria, talvez até ele mesmo pudesse me ajudar? – Cupid! – Subi as escadas e me deparei com o próprio. – Achei você, finalmente.

— Achou? Estávamos nos perguntando quando você iria aparecer.

— Estávamos? Quem?

— Nós Jack, – Tooth apareceu. – quem mais? – É, quem mais? Respirei aliviado.

— E o que vocês estão fazendo aqui? – Perguntei seguindo os dois para a sala principal onde North, Bunnymund e Sandman estavam.

— Cupid nos chamou. – Ela respondeu.

— Por quê?

— Porque você estava obcecado em voltar a cidade do Halloween, pensei que talvez os outros estivessem com o mesmo problema. – Cupid olhou para cada um. – Tendo pesadelos. – A palavra pareceu ter despertado uma grande atenção no momento, então era verdade, todos, fora Sandman, estavam realmente tendo pesadelos. – Perdoem-me, deveria ter tido essa conversa com vocês antes de partimos para Halloween.

— O que são esses pesadelos? – Bunnymund foi o primeiro a se pronunciar, North e Tooth pareciam concordar com sua atitude.

— Não tenho como explicar. – Cupid respondeu.

— Como assim?!

— Dizem os cidadãos de Halloween – Comecei a falar antes de Cupid, tentando repetir as mesmas palavras que ele tinha usado comigo. – que são apenas pesadelos e outros dizem que é uma parte... – Procurei pela palavra em mente, todos estavam atentos a mim. – Pavorosa. – Soou mais como uma pergunta do que como uma afirmação. – Isso. Uma parte pavorosa de nosso futuro.

— E como sabe disso, Jack? – North me questionou.

— Cupid quem me disse mais cedo.

— Parece que você estava realmente prestando atenção. – Cupid brincou sorrindo.

— Eu sempre presto. – Sorri de volta.

— Como podem ser pesadelos? Se parecem tão reais... – Tooth indagou.

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— Não importa. – Bunnymund cortou. – Se são apenas pesadelos, não temos com o que nos preocupar. – Sandman, o único que não tinha sido atormentado com pesadelos, parecia ser o mais perturbado ali, após o que Bunnymund disse, ele se pôs a frente do mesmo e várias imagens se formaram em sua cabeça, como sempre, ninguém entendeu nada. Bunnymund olhou para North e murmurou: – O que ele está dizendo?

— Creio que o que nosso amigo Sandy está dizendo é que se estamos tão aflitos com pesadelos, deveríamos estar preocupados, pois isso afeta as nossas vidas e no nosso dever de proteger as crianças.

— Mas se nada está acontecendo, não há com o que nos preocuparmos, certo?

— Errado. – Respondi, novamente, toda a atenção se voltou para mim, o que tem acontecido bastante nos últimos dias.

— Por que errado, Frost? – Bunnymund indagou, todos esperavam por uma resposta.

— Hoje sai para respirar um pouco e aconteceu uma coisa não muito agradável.

— O que de ruim pode ter acontecido? – Cupid parecia surpreso.

Assim como tinha explicado o que havia acontecido na casa da árvore, relatei tudo o que tinha visto, nos mínimos detalhes, dentre todos eles, Tooth era a que mais estava apreensiva, todos olhavam para ela.

— Tem certeza do que viu Frost? – Cupid indagou, apenas afirmei com a cabeça. – Uma coisa dessas acontecendo bem debaixo do nosso nariz? – Ele se virou para Tooth. – Tooth consegue verificar se há alguma anormalidade entre os seus?

— Conversarei com os ratos, a Europa é território deles, se tem alguma coisa errada acontecendo, eles saberão. – Murmurou.

— Certo. – Dito isso, Tooth se afastou de nós o mais rápido possível e sumiu pelas escadas do Palácio.

— O que vocês acham que isso pode ser? – North questionou.

— Não queria falar com ela por perto, mas essa não é a primeira vez que isso ocorre. – Assim como eu, os outros, olharam fixamente para Cupid. – Já ouvi relatos enquanto estava pelas ruas de uma sombra de olhos dourados que tem aterrorizado as crianças enquanto dormiam, não quis acreditar, achei que eram apenas boatos, histórias para crianças dormirem cedo, mas se você a viu...

— Estão querendo nos afetar, assim como Pitch fez. – Bunnymund retorquiu.

— Mas quem? – O guardião do amor perguntou aflito.

— Eu chutaria Pitch sem problema algum, mas com o que aconteceu em sua toca e na cidade do Halloween... E se fosse um dos pesadelos de Pitch? – Bunnymund disse, Sandman pareceu ter aderido a ideia.

— Um daqueles cavalos? Mas por que agora? – Perguntei.

— Talvez alguma parte dele ainda querendo vingança. – Porém a ideia não me desceu, Sandman parece ter gostado mais da ideia também.

— A sombra de Pitch então? – North chutou. – Ela não mencionou um "mestre"? Talvez ele esteja por trás disso. – Um chute bem certeiro, devo admitir. – Mas não sabemos quem é ele e o que ele quer.

— Vamos esperar Tooth voltar, talvez os ratos saibam de alguma coisa, vou conversar com Jack. – Olhei diretamente para ele ao ouvir meu nome. – Skellington, desculpa. Preciso saber se está tudo bem por lá e se ele não encontrou algo que possa nos ajudar.

Os outros se sentaram as poltronas de Cupid, enquanto sentia em minhas pernas pequenas agulhas me espetando, era Snowburst e parecia bem assustado, mas com tudo o que vem acontecendo, quem não estaria também?